Convidado
para falar aos estudantes da Universidade de Siena, na Itália, pensou que era
um escritor ignorado e decidiu se apresentar. Mas, na medida em que falava foi
se dando conta que não sabia bem quem era. Passou rápido à leitura de seus
textos e dois anos mais tarde, na solidão de seu gabinete de trabalho, iniciou
o seu livro de memórias para dizer o que não fora dito naquela tarde na Itália.
Los buscadores de oro (México,
Alfaguara, 1993) é o resultado.
O
título do livro vem da primeira lembrança que ele guarda: brincar com seus amigos
na beira do rio, cavando com as mãos
entre as pedras esverdeadas, cobertas de musgo ou removendo, suavemente, a areia
entre os restos de ferro velho e pequenos
pedaços de árvore carcomido em busca de ouro que o rio trazia.
E
de um buscar o ouro serão feitas as páginas que seguem, perseguindo as lembranças
que irão ser traços da vida de quem é um dos grandes nomes da Literatura de seu
país, a Guatemala.
Alguma
cor (o malva da fachada da casa, o pálido lilás de seu interior), algum cheiro
(o da impressora que seu pai havia instalado em casa), alguma paisagem
(arroios, pesadas carretas carregadas de cana de açúcar), alguma cena (os camponeses
se movendo lentamente com seu boi e seu arado) e essas experiências marcantes
que para ele foram a escola e a escolha da Literatura como seu caminho.
A
escola com as dificuldades de que estão cheias a aritmética, a botânica, a geografia
e que ele tinha de vencer ou por orgulho
ou por vergonha. Os recreios com seus jogos pelos quais nunca pode se interessar
e o único oásis: as aulas de música em que aprendia a cantar e a solfejar.
No
capítulo X, referida a lembrança que retorna a cada insônia: a do menino de nove
ou dez anos, sentado, tendo um grosso livro sobre os joelhos e olhando ao
longe, além do rio, homens que trabalham a terra. Entre a cena real que pode
ver e a imaginária inscrita na estampa do livro que sustenta, está se decidindo
o caminho na realidade longo e tortuoso
mas não necessariamente dramático pelo qual o menino chegará, chegou já sem que
ele mesmo o suspeite a duas coisas que serão fundamentais na sua vida: a Literatura e a tomada de partido pelo fraco
diante do poderoso.
Seus
livros La oveja negra y demás fábulas
(1969), Movimiento perpétuo (1972), Lo demás es silencio (1978), Viaje al centro de la fábula (1981), La palabra mágica (1983) que lhe deram
esse merecido lugar de destaque nas letras hispano-americanas que ocupa. O ter
se posicionado sempre a favor dos oprimidos, sendo guatemalteco e consciente da
uzeira e vezeira intervenção aberta dos Estados Unidos nas repúblicas bananeiras o fez sempre viver no exílio.
Nascido
em 1921, Augusto Monterroso vive desde 1944 no México.














