domingo, 2 de novembro de 1997

Sonetos de luz


           Publicou Verde que se oye em 1971 e Palabras cruzadas em 1977. Quinze anos depois, pela Fundación Instituto Superior de Estudios Lingüísticos y Literarios (Buenos Aires), Alumbramiento de los dias, um conjunto de sonetos. Em epígrafe, um texto de Enrique Larreta busca a definição do soneto, esse poema de engenhosa geometria que não tolera o prestígio meramente verbal, mas busca o sentido pleno da espiritualidade.Presos nos quatorze versos, o milagre de um cárcere mais livre que o ar de seus decassílabos, o sentir de Maria Judith Molinari.

          Sentir abrasado pelos pequenos milagres do cotidiano: o cheiro da chuva, o brotar dos jasmins, o bater dos sinos, o círculo de pássaros no céu, a serena claridade da janela, o desfolhar de uma árvore. Sentir onde pulsa a emoção das lembranças. As manhãs, as tristes ausências, a memória da felicidade que perduram onde o desejo do outro se esboça nas expressões que a ele se dirigem: Meu amor te abraça, quando o vento chama teu nome, pensando em ti, desamparada, Eu sei que me traçaste este caminho, As vezes me pergunto dos motivos / que me levam a nomear-te em cada verso.
           Principalmente, um sentir que emerge na busca de si mesma. Maria Judith Molinari se compraz em se procurar, em se encontrar, em se saber poeta. E os jogos de palavras que estabelece são cheios de cores – é o verde, o negro, o azul, o ocre e o marrom, o vermelho. É o branco do lírio e da magnólia, é o amarelo das acácias. Que também remetem à simplicidade de sentidos plenos de um espaço exterior (lua, rosas, laranjais, estrelas, sol, água, crepúsculos de espuma) e a uma paisagem interior plena de fé e de esperança, de um confiar na palavra, de um confiar no poema, oração de cada manhã.

           Nas palavras que antecedem em Alumbramiento de los dias os seus sonetos, Maria Judith Molinari se confessa uma aprendiz indisciplinada. No entanto, é no soneto que ela aprisiona seus versos tão cheios de luz.

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