Professor de Literatura da
Universidade de Laval, Quebec, no Canadá, Maximilien Laroche é autor de Sémiologie des apparences, La double scène de la représentation, La découverte de l’Amérique pour les
Américains, L’avenemement de la
Littérature haitienne. Recentemente, acaba de publicar Bizango,
essai de mythologie haitienne, número 14 da coleção Essais, da Grelca, uma
edição da Universidade de Laval.
Um
artigo de Jean Pouillon, publicado na Nouvelle
Revue de psychanalyse (6, 1972), lhe inspira a estrutura do livro cujos
três capítulos tem por título “Manières de table”, “Manières de lit”, “Manières
de dire”. “Manières
de table” (Maneiras à mesa), se inicia falando do livro L’année de toutes les duperies de Robert Malval, o atual best-seller da edição haitiana. Como se
trata das memórias de um diplomata, a política é o seu tema dominante. Mas, o
que atraiu a atenção de Maximilien Laroche foi o que ele chama de um detalhe à primeira vista talvez
insignificante ou sem demasiada
importância que ele mesmo se questiona não se tratar de uma frivolidade
nele se ater: o lugar da refeição, os convites para jantar na estratégia
política do diplomata.
Fixar-se
em tal detalhe, porém, se explica muito bem: o Haiti é uma sociedade da fome. A frase é de Claude Souffrant, no
seu livro Sociologie prospective d’Haiti.
Maximilien Laroche não pode deixar de lembrá-la como tampouco as primeiras
páginas do romance Compère genéral
soleil, de Jacques Alexis, a evocação
alucinante da corrida desesperada de um homem faminto, perseguido por uma
matilha de policiais.
E a relação vem de per si: um país de famintos e que
pede o que comer recebendo como resposta apenas palavras vãs; servem-lhe
palavras para os ouvidos quando estão privados dos alimentos para o estômago.
Daí
esse refletir de Maximilien Laroche sobre a disparidade das mesas no Haiti: Nós não comemos igual no Haiti, se é que comemos! Porque o critério
de classe divide, compartimenta, separa e diferencia os
haitianos desde a primeira refeição do dia. Quando, alguns só podem tomar
um caldo de milho, grosseiramente moído, outros se deliciam com um arroz cada
vez mais fino, cada vez mais Uncle Sam.
Resta
a Maximilien Laroche preconizar uma estética, visando essa unificação que
parece tão somente sonho de poetas: que todo mundo tenha seu pão.
Certamente,
é algo muito simples. No entanto, parece ter sido sempre algo de inalcançável,
também, no Continente.
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