domingo, 23 de novembro de 1997

Reflexões de Maximilien

           Professor de Literatura da Universidade de Laval, Quebec, no Canadá, Maximilien Laroche é autor de Sémiologie des apparences, La double scène de la représentation, La découverte de l’Amérique pour les Américains, L’avenemement de la Littérature haitienne. Recentemente, acaba de publicar Bizango, essai de mythologie haitienne, número 14 da coleção Essais, da Grelca, uma edição da Universidade de Laval.

           Um artigo de Jean Pouillon, publicado na Nouvelle Revue de psychanalyse (6, 1972), lhe inspira a estrutura do livro cujos três capítulos tem por título “Manières de table”, “Manières de lit”, “Manières de dire”.  “Manières de table” (Maneiras à mesa), se inicia falando do livro L’année de toutes les duperies de Robert Malval, o atual best-seller da edição haitiana. Como se trata das memórias de um diplomata, a política é o seu tema dominante. Mas, o que atraiu a atenção de Maximilien Laroche foi o que ele chama de um detalhe à primeira vista talvez insignificante ou sem demasiada importância que ele mesmo se questiona não se tratar de uma frivolidade nele se ater: o lugar da refeição, os convites para jantar na estratégia política do diplomata.

             Fixar-se em tal detalhe, porém, se explica muito bem: o Haiti é uma sociedade da fome. A frase é de Claude Souffrant, no seu livro Sociologie prospective d’Haiti. Maximilien Laroche não pode deixar de lembrá-la como tampouco as primeiras páginas do romance Compère genéral soleil, de Jacques Alexis, a evocação alucinante da corrida desesperada de um homem faminto, perseguido por uma matilha de policiais.

            E a relação vem de per si: um país de famintos e que pede o que comer recebendo como resposta apenas palavras vãs; servem-lhe palavras para os ouvidos quando estão privados dos alimentos para o estômago.

           Daí esse refletir de Maximilien Laroche sobre a disparidade das mesas no Haiti: Nós não comemos igual no Haiti, se é que comemos! Porque o critério de classe divide, compartimenta, separa e diferencia os haitianos desde a primeira refeição do dia. Quando, alguns só podem tomar um caldo de milho, grosseiramente moído, outros se deliciam com um arroz cada vez mais fino, cada vez mais Uncle Sam.

             Resta a Maximilien Laroche preconizar uma estética, visando essa unificação que parece tão somente sonho de poetas: que todo mundo tenha seu pão.

            Certamente, é algo muito simples. No entanto, parece ter sido sempre algo de inalcançável, também, no Continente.

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