No
verão de 1953 foi criada, em Paris, The
Paris review com o objetivo de publicar trabalhos ficcionais e poéticos em
vez da escrita sobre a escrita. Além
da publicação de trabalhos originais, a proposta era registrar as palavras dos
próprios escritores sobre as suas obras o que originou reportagens com mais de
duzentos romancistas, poetas e dramaturgos contemporâneos.
Passados
alguns anos, em 1996, a editora El Ateneo de Buenos Aires selecionou as
reportagens sobre escritores latino-americanos para publicar Confesiones de escritores, Escritores
latinoamericanos, no qual estão presentes Adolfo Bioy Casares, Jorge Luiz
Borges, Guillermo Cabrera Infante, Julio Cortázar, Carlos Fuentes, Gabriel García
Márquez, Pablo Neruda, Octávio Paz, Manuel Puig, Mario Vargas Llosa.
Com
exceção da entrevista de Adolfo Bioy Casares, realizada em 1995, as demais são
menos recentes. A que foi feita com Jorge Luiz Borges, por exemplo, data de
1966 e, as demais, de 1970, 1981, 1989, 1990 e 1993. Não tratam, então, das últimas
obras publicadas, mas determinadas questões – sobre o método de trabalho do
escritor, sobre suas leituras, sobre o fenômeno da criação, sobre a gênese de
certas obras – conferem à Confesiones de
escritores características curiosas e instigantes. Ainda que, por vezes, as
perguntas versem a propósito de algo da vida pessoal do escritor (momentos amorosos
de Adolfo Bioy Casares ou o que ocasionou a ruptura entre Mario Vargas Llosa e
Gabriel García Márquez) ou tenham sido anteriormente respondidas.
Assim,
Mario Vargas Llosa já havia dito antes que La
guerra del fin del mundo é a sua obra mais importante. Reitera a afirmação,
nessa entrevista de 1990, ao comentar que, na sua origem, o tema não estava
destinado a um romance mas a um filme de Rui Guerra que seria produzido pela
Paramount de Paris.Foi conversando com o cineasta, cuja idéia era filmar uma
história relacionada com Canudos que ouviu, pela primeira vez, falar no
assunto. Para realizar o roteiro, que lhe havia sido encomendado, passou a ler
sobre a Guerra dos Canudos e uma de suas leituras iniciais foi Os sertões.Essa obra de Euclides da
Cunha, diz, foi, para ele, uma das grandes revelações. Como o fora a leitura de
Os três mosqueteiros quando criança
ou Guerra e Paz, Madame Bovary e Moby Dick já adulto.
Atônito,
se dá conta de ter lido um dos melhores livros já escritos na América Latina e
que a ele deve La guerra del fin del
mundo. E, então, se deixa fascinar, também, pelas demais obras sobre
Canudos. Quando o projeto cinematográfico foi interrompido, continuou
pesquisando, num entusiasmo que o fez trabalhar dez a doze horas por dia. O
resultado foi o romance que, no seu entender, chegou mais perto do que ele chama
o romance total (expressão usada para
classificar Cien años de soledad
quando, em 1971, escreveu García
Márquez: historia de un deicidio), aquele romance que descreve, desde o
nascimento até a morte, um mundo fechado e tudo aquilo que o compõe seja o
individual, o coletivo, o legendário, o histórico, o cotidiano, o mítico.
Além
disso, confessa que o tema de Canudos lhe propiciou o que sempre desejara:
escrever um romance de aventura profundamente ligado às questões históricas e
sociais. Sobre elas, Mario Vargas Llosa trabalhou durante quatro anos,
partindo, pela primeira vez na sua vida de escritor, de um universo
desconhecido. Foi levado não somente a entendê-lo mas a perceber o quanto faz
parte da História deste Continente o fanatismo e a intolerância.
Tal
relação, como aquelas feitas, muitas vezes, pelos demais autores entrevistados,
contribui para dar vigência a essas confissões que os anos passados, a partir
da data em que foram feitas, não alcançaram diluir.
Até
porque já é um fato aceito pelos latino-americanos só tomar conhecimento de
certos acontecimentos muitos anos depois de eles terem se passado. Um atraso
que também marca a distância entre o Primeiro Mundo, produtor científico, cultural
e ideológico e os outros que lhe seguem, colonizadamente, os passos.
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