Desde
que os ibéricos aqui chegaram, há quase quinhentos anos, o Continente foi se desangrando.
Nessa perda de riquezas, inserem-se, também¸ os escritores. .Muitas vezes,e
desde sempre, houve os que foram obrigados a abandonar seu país, dando origem ao que passou a ser
chamado de Literatura do Exílio.
Rubrica
que, ao abrigar um assunto muito vasto e muito variado, irá oferecer diferentes
ângulos de aproximação: razões que forçaram a partida, o momento da partida, o desespero do
cotidiano em terras estranhas, a luta pela expressão, a perda do destinatário.
As
razões da partidas acontecida com menor ou maior pressa, acabam por serem sempre
as mesmas. Daniel Moyano, que da Argentina partiu para a Espanha, em entrevista
concedida, em 1980, em Paris, dizia que lhe era impossível viver num país onde,
de repente, é levado preso, preso fica por vários dias, é posto em liberdade sem conhecer as
causas de sua prisão e, ainda, recebe o conselho de não procurar conhecê-las.
Terrível,
também, o momento da partida para o destino desconhecido. Os sentimentos irão
explodir nesse desgarramento e terão diferentes nuanças. De Adrian Santini, jovem poeta chileno, é a
voz que diz poder carregar seus fardos nos ombros e acrescentar que me despedi
insolente. Com certeza, ignorava ou
minimizava os momentos difíceis que o esperavam e que Humberto Constantini,
poeta argentino exilado no México irá definir.
Um desacerto que domina aquele
que teve que abandonar o seu espaço para se integrar, arbitrariamente, noutro,
que precisa, então criticar: escrupulosamente
/ umas vinte vezes por dia / isto é / não lhe perdoar absolutamente nada / nem
o agorinha nem o smog nem o transporte / nem a grandiosidade/ nem as cores
estridentes / nem os impronunciáveis nomes das ruas / nem o seu glorioso
passado revolucionário.
Desacerto
no qual se engloba o martírio maior do exílio: o isolamento originado da
impossibilidade de comunicação, mesmo nos casos em que a língua do país
acolhedor seja a mesma do país natal
Quem
exprime esses obstáculos, que ainda no caso em que seja a mesma língua, devem
ser transpostos, é, também, Humberto Costantini que no seu poema “Rosedal” se queixa
de não entender quase nada do que dizem os jornais mexicanos.
Se
o exílio do hispano-falante é passado na Espanha, as relações muitas vezes, se
regem pela mentalidade, ainda vigente, do colonizador versus colonizado e
expressa o binômio metrópole /colônia. Nela, somente é aceitável para os
espanhóis a língua falada na Espanha. Todas as variantes próprias de cada país
do Continente se afastam de seu padrão e, portanto, são inaceitáveis. Mas, sem
dúvida, a dificuldade maior será a
separação do escritor de seus leitores, quando o exílio acontece em
paises cuja língua é diferente da sua língua materna e na qual ele se expressa.
A
esses desesperos advém outros; o diluir-se, na passagem dos anos, a imagem do
país natal, o exílio duplo ou repetidos exílios, o viver entre um passado
destruído e um futuro incerto, o dividir-se entre o desejo de retorno e o medo
da volta para tanta coisa que não existe mais. Emoções
que fluem e são testemunhas da tragédia vivida por tantos escritores do
Continente. Debruçados sobre esses testemunhos, Carlos Droguett, o romancista
chileno exilado na Suíça, reflete e se surpreende. Surpreende-se que no teatro,
na música, nas narrativas e nos poemas
que expressam os pensamentos, os suspiros e os sofrimentos dos
intelectuais chilenos, paire um silêncio sobre o outro exílio. Aqueles que
nenhuma das vozes que se levantaram considerou: O exílio dos que não saíram,
não souberam ou não puderam sair do país. O exílio dos que sucessivamente,
enfrentaram a delação, a prisão, a tortura, o desaparecimento, o assassinato e
o absorveram e deixaram um testemunho escrito ou oral de sua passagem pela
terra, de sua vertiginosa agonia na cela
no leito da tortura que também
eram a su
Desde
que os ibéricos aqui chegaram, há quase quinhentos anos, o Continente foi se desangrando.
Nessa perda de riquezas, inserem-se, também¸ os escritores. Muitas vezes,e
desde sempre, houve os que foram obrigados a abandonar seu país, dando origem ao que passou a ser
chamado de Literatura do Exílio.
Rubrica
que, ao abrigar um assunto muito vasto e muito variado, irá oferecer diferentes
ângulos de aproximação: razões que forçaram a partida, o momento da partida, o desespero do
cotidiano em terras estranhas, a luta pela expressão, a perda do destinatário.
As
razões da partidas acontecida com menor ou maior pressa, acabam por serem sempre
as mesmas. Daniel Moyano, que da Argentina partiu para a Espanha, em entrevista
concedida, em 1980, em Paris, dizia que lhe era impossível viver num país onde,
de repente, é levado preso, preso fica por vários dias, é posto em liberdade sem conhecer as
causas de sua prisão e, ainda, recebe o conselho de não procurar conhecê-las.
Terrível,
também, o momento da partida para o destino desconhecido. Os sentimentos irão
explodir nesse desgarramento e terão diferentes nuanças. De Adrian Santini, jovem poeta chileno, é a
voz que diz poder carregar seus fardos nos ombros e acrescentar que me despedi
insolente. Com certeza, ignorava ou
minimizava os momentos difíceis que o esperavam e que Humberto Constantini,
poeta argentino exilado no México irá definir.
Um desacerto que domina aquele
que teve que abandonar o seu espaço para se integrar, arbitrariamente, noutro,
que precisa, então criticar: escrupulosamente
/ umas vinte vezes por dia / isto é / não lhe perdoar absolutamente nada / nem
o agorinha nem o smog nem o transporte / nem a grandiosidade/ nem as cores
estridentes / nem os impronunciáveis nomes das ruas / nem o seu glorioso
passado revolucionário.
Desacerto
no qual se engloba o martírio maior do exílio: o isolamento originado da
impossibilidade de comunicação, mesmo nos casos em que a língua do país
acolhedor seja a mesma do país natal
Quem
exprime esses obstáculos, que ainda no caso em que seja a mesma língua, devem
ser transpostos, é, também, Humberto Costantini que no seu poema “Rosedal” se queixa
de não entender quase nada do que dizem os jornais mexicanos.
Se
o exílio do hispano-falante é passado na Espanha, as relações muitas vezes, se
regem pela mentalidade, ainda vigente, do colonizador versus colonizado e
expressa o binômio metrópole /colônia. Nela, somente é aceitável para os
espanhóis a língua falada na Espanha. Todas as variantes próprias de cada país
do Continente se afastam de seu padrão e, portanto, são inaceitáveis. Mas, sem
dúvida, a dificuldade maior será a
separação do escritor de seus leitores, quando o exílio acontece em
paises cuja língua é diferente da sua língua materna e na qual ele se expressa.
A
esses desesperos advém outros; o diluir-se, na passagem dos anos, a imagem do
país natal, o exílio duplo ou repetidos exílios, o viver entre um passado
destruído e um futuro incerto, o dividir-se entre o desejo de retorno e o medo
da volta para tanta coisa que não existe mais. Emoções
que fluem e são testemunhas da tragédia vivida por tantos escritores do
Continente. Debruçados sobre esses testemunhos, Carlos Droguett, o romancista
chileno exilado na Suíça, reflete e se surpreende. Surpreende-se que no teatro,
na música, nas narrativas e nos poemas
que expressam os pensamentos, os suspiros e os sofrimentos dos
intelectuais chilenos, paire um silêncio sobre o outro exílio. Aqueles que
nenhuma das vozes que se levantaram considerou: O exílio dos que não saíram,
não souberam ou não puderam sair do país. O exílio dos que sucessivamente,
enfrentaram a delação, a prisão, a tortura, o desaparecimento, o assassinato e
o absorveram e deixaram um testemunho escrito ou oral de sua passagem pela
terra, de sua vertiginosa agonia na cela
no leito da tortura que também
eram a sua pátria













