
São
presenças regidas pela harmonia de um verso não contaminado pela maldade em que
os seres – peixes de muitas cores, sons, gotas de água - atravessam os céus e pousam, suavemente, na
superfície da Terra quando, nela, as cidades
não haviam sido criadas, só pequenas
aldeias com casinhas de telhado
vermelho e um campanário sempre à beira de lagos serenos e ela ainda era um
planeta receptivo para o bem.
Contadas
pelo velho patriarca, o avô do entardecer, as lendas/cartas se nutrem de um poético que
é encontrado nas águas, nos minérios, nos vegetais. Como já o fizera Serafim J. García em Piquín
y Chispita, um poético que ignora as atuais e excêntricas
e violentas aventuras que o Primeiro Mundo se compraz em exportar para os
países do Continente e procura na beleza da expressão, onde sobressai a força
descritiva dos adjetivos, lembrar o belo
mundo das coisas simples. E os heróis, nem estranhos monstros, nem
impressionantes seres armados para defender o bem ou impor o mal e portadores
de verdades importadas, são em Leyendas del abuelo de la tarde, uma
gota d’água, uma pequena pedra colorida,
um pássaro, uma florzinha sem
importância. Como se Maurício Rosencof, seu autor, resistisse à inspiração
destruidora dos modelos forâneos e, junto com
Elbio Ferrario, que lhe ilustra os textos com desenhos de traços simples
e cores vibrantes – cada um a seu modo, um valente David – pudesse conter, com
as armas ingênuas da singeleza, a avalanche de heróis e de super heróis que de outras plagas chegam ao Continente
para converter-lhe as crianças
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