domingo, 3 de novembro de 1991

Para um mercado comum da cultura da América Latina


             Voltado, sempre, para os pólos irradiadores de cultura e, em geral, submisso as  suas diretrizes, o Brasil tem ignorado as expressões artísticas latino-americanas para consumir música, teatro, cinema, literatura, geralmente de qualidade medíocre e até execrável, mas que, por ser importada do Primeiro Mundo, ganha, por isso, uma chancela de  qualidade.      

            Algumas vezes, qualidades, efetivamente, existem. No entanto, por expressarem situações próprias de países  com outros graus de cultura e outros status econômico-social, diferindo da realidade de um país do Terceiro Mundo ( o Brasil, ameaçado de transmigrar para níveis mais baixos), só podem ser usufruídos por uma ínfima parcela da população. Por sua vez, a Lei 5692/71 ao reestruturar o ensino secundário, pretensamente possibilitou ao aluno optar por uma das cinco línguas estrangeiras modernas. Mas, de fato, levou  o ensino do idioma estrangeiro, no segundo grau, a um mono-lingüismo extremamente limitante e cerceador. Desde então, a visão de mundo do estudante brasileiro passou a ser perigosamente simplista porque espelhado numa única expressão cultural importada e, assim, colonizante.

            Além disso, seja pela má formação dos professores, seja pela própria situação  decadente da Escola Brasileira,  o aprendizado do idioma estrangeiro mostrou-se inóquo pois, dificilmente,  alguém que tenha aprendido a língua inglesa no seu currículo escolar é capaz de entender um breve texto de jornal ou uma simples instrução para o uso correto de um aparelho de som ou máquina fotográfica, redigido em inglês, para ficar, apenas, nesses dois exemplos.

            Todavia, dois anos de aprendizado de espanhol seriam perfeitamente suficientes para a aquisição das quatro habilidades lingüísticas (leitura, compreensão, redação e expressão oral) o que permitiria o acesso a toda sorte de informação e nas mais diversas áreas, tendo em vista o que é publicado nessa língua.


            É evidente que tornar possível o acesso a esse material bibliográfico exigiria que fossem postos em prática os acordos culturais que existem entre o Brasil e vários países de língua espanhola, isentando  o comercio  de livros das taxas de importação que torna proibitiva para a grande maioria, a compra de livros estrangeiros.

            Extremamente auspiciosa é, pois, a instalação no Brasil da Editora Fondo de Cultura Econômica. Fundada no México em 1934, com a intenção de publicar apenas livros de Economia, hoje, com um imenso e variado catálogo, seus títulos mais procurados são os de Filosofia, História, Economia e Literatura. Trata-se de uma presença que irá propiciar a oportunidade de comprar, no Brasil, obras em espanhol que até, então, sempre tam sido de difícil e cara  aquisição.

            Tendo, igualmente, por objetivo a tradução para o espanhol de obras de autores brasileiros, a Editora Fondo de Cultura Econômica irá possibilitar, também, a sua leitura em todo o Continente, mercê de sua presença em vários países da América Latina.

            Num momento em que os governos do Continente  mostram intenções de estreitar laços através de acordos econômicos, um Mercado Comum da Cultura da América Latina, cujas bases a Editora Fondo de Cultura Económica pretende implantar, significa importantíssimo  passo para a integração do Brasil no Continente Latino-americano.

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