Por isso há tanta
fatalidade aqui, tanta maldade, não temos mulheres, deveríamos trazê-las para
evitar tanto sangue e tantas traições...
As mulheres
ficaram de outro lado do Atlântico. Um
bando de aventureiros o atravessou, procurando as riquezas que no Velho
Continente lhes eram negadas. Ou, apenas, um pedaço de terra onde se enraizar.
Estavam de sobra nas terras áridas da Península Ibérica que já tinham dono.
Embarcavam, então, para um destino desconhecido que deviam enfrentar, quase
sempre, na mais absoluta solidão.
Seres sem direito às lágrimas diz
Carlos Droguett em El hombre que trasladaba las ciudades (Barcelona,
Noguer, 1973), um dos seus romances que fazem parte da, assim chamada pela
historiadora francesa Jacqueline Covo, Trilogia da Conquista. No trabalho que
apresentou, em 1982, no Colóquio Internacional sobre a obra de Carlos Droguett,
realizado em Poitiers na França, ela demonstrou como a obra ficcional do
romancista chileno não se afasta da
crônica oficial que registrou esses
primeiros feitos dos ibéricos no Continente. Apenas, dessas figuras
estratificadas pelo documento histórico, Carlos Droguett faz personagens profundamente
humanos. Empenhados na Conquista do Continente,eles lutam, adoecem, fracassam,
morrem, eventualmente vencem e passam a existir na História como heróis ou como
vilãos, percorrendo um itinerário no qual a mulher esteve sempre alijada. Nossos olhos são para procurar o peito dos
indígenas, não peitos de mulheres,
diz um capitão para o outro sintetizando o alvo a que se propumham.
E fazendo e desfazendo a cidade que
a autoridade espanhola do Peru o incumbira de fundar, para defendê-la do rival
ambicioso, que vindo do Chile pretendia dela tomar posse, Juan Núñez de Prado,
mal vislumbra a mulher na figura de uma índia que se banha no rio ou na outra que é morta pelos invasores ou na
que executa uma tarefa imposta pelos brancos. E, são como relâmpagos as imagens
femininas que lhe cruzam o cérebro: lembranças de um gesto, de um olhar, de uma
flor, de um riso, de um perfume. Ofertas de alguém cujo nome já pouco importa –
ou Amparo, ou Consuelo, ou Claudia, ou Marcela – para quem ele correu, um
dia.Também são lampejos, essas ânsias que nele irrompem por uma pele feminina,
sadia, cheia de vida e pela qual ele trocaria toda essa conquista que tem a ilusão de possuir. Mulheres que riam e que chorem sob estas
árvores e estas ramagens onde esparramaremos
a cidade.
E, figura de sonho são esses olhos
negros que o espiam quando pensa a cidade de Barco assentada, terminada,
habitada, esses suspiros, risos, murmúrios escondidos atrás dos postigos que
ainda não existem.
Mas, o rei e sua vontade estão muito
distantes. E a conquista do Continente, que por ele se faz entre tantas e
desmesuradas privações, não somente ignorou os sentimentos dos vencidos, como,
também, os sentimentos daqueles que a
realizaram.
Porque o importante era somente, a
Cruz e a Espada.

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