Ao longo do tempo, por diversas
razões e, por vezes, induzidas razões, o Brasil tem se mantido alheio aos
demais países do Continente, voltado, sempre, para a Europa e para o Hemisfério
Norte, os considerados pólos irradiadores do conhecimento. Agora, quando a
Espanha prepara os festejos que devem comemorar a chegada de Colombo à América,
em 1492, o Brasildeles participa, submetendo-se, salvo as raras e valiosas
exceções, à liderança ideológica ibérica. Assim, com exposições, palestras,
cursos, conferências, mostras, filmes, concertos, espetáculos teatrais, na
maioria dos casos, vai reafirmando essa História Oficial que, até agora, não tem
sido o suficientemente questionada. Como resultado dessas atividades,
esperar-se-ia uma notável reflexão crítica sobre os múltiplos aspectos
relacionados com a chegada dos ibéricos na América e uma conseqüente mudança no
trato do Brasil com os países do Continente, na medida que ficará demonstrada a
similitude de destinos e problemas cuja solução poderá, muitas vezes, ser
semelhante.
No
entanto, as comemorações talvez possam se constituir um privilegiado momento
para que o país, finalmente perceba que, antes de
procurar imitar essa realidade do Primeiro Mundo que tanto admira, deve
mirar-se como expressão do Continente. E, em uníssono com os países
latino-americanos, fazer seu povo merecedor – com tudo o que isso possa
comportar de direitos e deveres- da
cidadania que lhe tem sido negada.
Mas
esse Continente unido, sonho de muitos e que, tantas vezes, foram expressos,
pressupõe conhecê-lo, compreendê-lo em diferentes níveis e múltiplas direções. Nesse
sentido, nas mais diversas áreas, inúmeros programas poderão ser perfeitamente
exeqüíveis. Para citar apenas um exemplo, o relacionado com o mundo das Letras:
a tradução para o português de obras de autores latino-americanos
contemporâneos e para o espanhol, de autores brasileiros contemporâneos.Seria
oferecer aos brasileiros, a imperdível oportunidade de ler, hoje, o que há de
melhor na produção literária do mundo ocidental e aos latino-americanos, por
sua vez, a possibilidade de conhecer os autores brasileiros que,
raramente, são traduzidos para o
espanhol e, sem duvida, pelas mesmas razões que induzem a América a se
desconhecer mutuamente.
Tal
conhecimento (e compreensão de incomensurável valor para as partes envolvidas)
teria um alcance mais amplo e mais duradouro na medida que, podendo usufruir de
obras que até então tem sido vedadas, aos habitantes do Continente, eles
poderão compará-las com aquelas que lhe são impostas pela política editorial
que visa, apenas, o lucro e, então, se dar conta que o ônus oriundo de um
atrelamento cultural no mundo da
editoração é muito grande e não tem sido
devidamente mensurado.
Um
descobrimento da América estaria se efetuando. As loas cantadas seriam, então,
para aqueles que verdadeiramente delas sejam merecedores.

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