Obnubilados
pelo tradicional costume de exclamar, quando sentem em perigo alguma de suas pretensões ( mesmo
as mais chãs como querer estacionar o carro em lugar proibido), sabe com quem está falando?, alguns brasileiros se auto-situam e disso estão,
perfeitamente, convictos, como mais iguais do que os outros.
Na
verdade, eles se constituem uma casta. Isenta,
em alguns lugares em que as circunstâncias não o permitiram, do uso
dessa expressão ridícula, trata-se, no entanto,
de uma casta que existe em todo e qualquer lugar do mundo. Tão universal
quanto aquela que congrega os menos iguais do que os outros.
No
Brasil, entre “os mais iguais”e “os menos iguais” medeiam verdadeiros abismos
que a cegueira herdada pela impermeabilidade das classes ou imposta pelos
interesses em alienar uns e outros, impediu, por muito tempo, de perceber.
No
caso das crianças, “as mais iguais que as outras”, são as que possuem os bens
necessários para uma vida correta e os privilégios que aponta Gontardo
Galligaris no seu livro Hello Brasil! (São Paulo, Escuta, 1991) recém
lançado no Brasil: comer o que lhe agrada, receber amigos, poder passear e comprar à vontade.“As menos
iguais”, aquelas milhares – e hoje, surgem vozes para dizer de sua penúria –
que, no Brasil, já nasceram condenadas a viver no inferno das carências ou ao
desaparecimento precoce..
Situações
extremas que permitem ao autor de Hello Brasil! , um psicanalista
italiano radicado no Brasil, em 1989,
ver os felizardos que tudo recebem, como
crianças que reinam num país em que milhares de outras
perambulam, abandonadas, pelas ruas,
como o registra a imprensa nacional e internacional. E o levam a
elaborar uma explicação psicanalítica para o Brasil na qual se insere, também,
esse fenômeno que é o país possuir uma elite que tudo concede aos seus, enquanto se exime de qualquer
responsabilidade em relação aos que são privados do mais elementar necessário.
Com
certeza, somente os especialistas da área poderão julgar se as palavras de Gontardo Galligaris, como psicanalista,
são pertinentes, se colocam entre as que são passíveis de discussão ou entre as
que podem ser consideradas irrefutáveis.
Porém,
o ter tido olhos na “sua viagem ao Brasil”
para esses antagonismos sociais que no país se defrontam e ter, com seus
olhos de europeu e com simplicidade,
se espantado, faz dele um
viajante excepcional.
E
suas notas de viagem – “Notas de um
psicanalista europeu viajando no Brasil”
é o sub-título do livro - se constituem
excelentes fios condutores para perceber, entre constatações e contestações, um
Brasil, entre os tantos que existem, que
pode, então, ser delineado com novas cores ou com múltiplas nuanças.
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