domingo, 15 de dezembro de 1991

A lei dos homens


             Aos cinqüenta e cinco anos, tornou-se conhecido nacionalmente ao publicar, pela Civilização Brasileira, A solidão segundo Solano Lopes. Agora, três anos depois de sua morte, a Mercado Aberto de Porto Alegre, lança Para morrer de amor. Um romance que os editores apresentam como carregado de um erotismo tão intenso quanto delicado e poético, um sopro de vida no panorama do romance brasileiro dos últimos anos [...].


            A partir de um egocêntrico mundo feminino que descobre no amor adúltero as suas fibras mais profundas, Carlos Oliveira Gomes, advogado e poeta, esboça um romance de tese. Sua personagem bela, rica, educada nos mais exclusivos colégios, freqüentadora dos mais fechados grupos sociais é nele a vítima. Por se ter descoberto mulher tardiamente, por se considerar incapaz de sobreviver despojada de seu cotidiano conforto. Vive, cuidando muito de si mesma,  a viver na beleza tropical do Rio de Janeiro, usufruindo do que a cidade pode oferecer aos ricos e morre a morte que pressentia lhe estar sendo destinada.

            Para morrer de amor é o relato desse despertar feminino e do preço que deve, por esse despertar, ser pago. É construído em dois movimentos narrativos: a voz feminina que expressa, sem pudores a descoberta de seu corpo ( um universo fechado no território de anseios e sensações); as anotações do narrador com vistas à elaboração de um livro ( reprodução dos autos de um crime passional). Um narrar paralelo em que o segundo movimento antecipa os fatos ao se inserir no primeiro. Intercalam-se, então, um lirismo extremamente erótico que idealiza os corpos e o ato amoroso e uma objetividade rígida, traduzida na linguagem jurídica do processo que se segue ao crime. O poeta e o advogado que se encontram para falar do ser feminino, violentado e destruído por quem alega ser seu dono.

            Na ficção, Para morrer de amor, a mulher  paga  e com a vida ter ousado outra entrega. O marido, o que decide, com cinco tiros, de seu destino, continua livre e rico, consolado por uma jovem e bela mulher.

            Numa de suas anotações, o narrador já observara: o chamado crime passional ainda desfruta de sólidas simpatias  na triste e atrasada América do Sul.

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