A
partir de um egocêntrico mundo feminino que descobre no amor adúltero as suas
fibras mais profundas, Carlos Oliveira Gomes, advogado e poeta, esboça um
romance de tese. Sua personagem bela, rica, educada nos mais exclusivos colégios,
freqüentadora dos mais fechados grupos sociais é nele a vítima. Por se ter
descoberto mulher tardiamente, por se considerar incapaz de sobreviver
despojada de seu cotidiano conforto. Vive, cuidando muito de si mesma, a viver na beleza tropical do Rio de Janeiro,
usufruindo do que a cidade pode oferecer aos ricos e morre a morte que
pressentia lhe estar sendo destinada.
Para
morrer de amor é o relato desse despertar feminino e do preço que deve, por
esse despertar, ser pago. É construído em dois movimentos narrativos: a voz
feminina que expressa, sem pudores a descoberta de seu corpo ( um universo
fechado no território de anseios e sensações); as anotações do narrador com
vistas à elaboração de um livro ( reprodução dos autos de um crime passional).
Um narrar paralelo em que o segundo movimento antecipa os fatos ao se inserir
no primeiro. Intercalam-se, então, um lirismo extremamente erótico que idealiza
os corpos e o ato amoroso e uma objetividade rígida, traduzida na linguagem
jurídica do processo que se segue ao crime. O poeta e o advogado que se
encontram para falar do ser feminino, violentado e destruído por quem alega ser
seu dono.
Na
ficção, Para morrer de amor, a mulher
paga e com a vida ter ousado
outra entrega. O marido, o que decide, com cinco tiros, de seu destino,
continua livre e rico, consolado por uma jovem e bela mulher.
Numa
de suas anotações, o narrador já observara: o chamado crime passional ainda
desfruta de sólidas simpatias na triste
e atrasada América do Sul.

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