Isidora
não sabe quando vai acontecer, nem por qual trilha vai chegar, tampouco o calor
que irá trazer, no entanto, espera algo que presume será maravilhoso. Uma
espera que se inicia logo cedo, na manhã de domingo, antes que chegue o dia: um esplendor vago a obriga a abrir os olhos. É algo impreciso e promissor que amanhece
dentro dela. Começa, então, tem
algumas horas pela frente, a mensurar o tempo que, nesse conto “Domingo”,
de Yamandú Rodriguez do qual é protagonista, se escoa marcado pelos suas relações com os animais
que povoam os arredores do rancho isolado onde vive e por aquelas que a ligam
ao avô de quem é companhia. Assim, embora não haja menção a expressões
nitidamente temporais, indicativos de tempo são o ato de ordenhar (por muito que madrugue a hosca está sempre
antes dela no tambo”); de ir procurar alimento para seus passarinhos; do
aproximar-se o cavalo do rancho ao anoitecer; das galinhas procurarem os galhos
da árvores para dormir. Porém, à espera desse passar do tempo compreendido
entre o depois do almoço e o fim do dia, ela se impacienta e no desejo de
diminuir as horas lerdas da manhã, torna a perguntar ao avô pelas lembranças
de suas aventuras guerreiras (que já escutou tantas vezes) enquanto escolhe, em
pensamento a cor da fita que à tarde irá por no cabelo; canta a manhã inteira,
arruma o seu quarto, espia a estrada onde ninguém passa, mas cuja vista, embora
sem esperar por ninguém, lhe acelera o
pulso porque uma visita ao rancho sempre a impressiona. Mencionado em horas
precisas, outras tantas vezes: quando ela espera – se o dia amanhece nublado –
que ao meio dia escampe. E enquanto as horas passam vai ficando mais séria,
almoça sem apetite só quer poder se fechar no quarto diante do espelho diante
do qual fica duas horas. Acordando da sesta, o avô a chama para que faça o mate
e avisa: São três horas” Ela diz que
já vai, e sem pressa põe o pó de arroz, o vestido, a fita no cabelo. Meia hora
depois, ainda está de chinelo e se decide a calçar os sapatos que lhe machucam
os pés o que, no domingo, suporta, sem sentir, até que se esconda o último raio
de sol. Pronta, vai até a cozinha exibir-se para o avô e, tranqüila em saber
que somente irá chover de madrugada, vai se sentar na frente da casa. Logo, chega
o avô com seu banco. Quinze minutos passam em silêncio, ele pica fumo para seu
palheiro e o fuma com calma. Meia-hora depois, torna a fazer outro e cansa de
olhar para a estrada. O tema do tempo se desloca: Isidora compadece o avô pela
sua vida, sempre igual, constata que os vizinhos vivem pendentes do tempo: o
dia não chega para empurrar o arado e a noite para descansar. A tarde avança e
o avô entra na casa onde durante uma hora acende o isqueiro e joga fora os
tocos de cigarro.
E, nesse tempo todo, nada aconteceu a não ser o cavalo ter
comido a flor de malva. Outra meia hora se passa e as nuvens ocultam o sol, a
tarde se apaga. Isidora continua perto da estrada e na boca da noite ainda
espera. O avô a chama gritando para que prepare a comida. Isidora não enxerga
mais nada. Desiste e se dá conta que sua diversão acabou. Retorna à rotina:
fazer a comida, comer, dormir e acordar na segunda-feira para repetir o ciclo
da espera e ver chegar o domingo. Para esperar.









