Há
cinqüenta anos atrás, em 1957, aparecia, de Pablo Neruda o seu Tercer libro de las Odas. Como Odas elementales (1954) e Nuevas odas elementales (1956), o Poeta
procurava a clareza e a simplicidade, pois quisera a sua poesia dirigida a
todos os homens. E canta o que está a seu redor: os elementos (o ar, a chuva, a
tormenta), os animais (os peixes, as aves), as quatro estações do ano, os
sentimentos, a mulher amada, os poetas, os homens simples. E, entre muitos, os
mais surpreendentes como tema poético: o arame farpado, as meias, o fígado, o
sabão, a batata, o tomate, a cebola. Guiadas pelos seus sentidos e pelas
emoções, há, entre suas odes, como em outros poemas, inclusive de diferentes
épocas (exemplo perfeito é o poema “Pájaro” de seu livro póstumo Jardin de invierno), aquelas que fazem
parte dos que certos críticos chamam de poesia de circunstância. O que não o
impede de nela expressar, algo de muito profundo, enraizado no mais recôndito
de seu ser e que emerge diante de uma impressão, de sua facilidade em se comover.
Assim, “Ode a uma flor azul ”, flor encontrada num passeio que faz pelo campo,
perto do mar. Assim, “Ode à acácia mimosa” árvore se lhe apresenta aos olhos
quando se dirigia ao porto, provavelmente, de manhã porque inicia o poema
dizendo que o vapor ou névoa ou nuvem
o rodeavam e que ia quase dormindo quando uma
montanha de luz amarela, / uma torre
florida / irrompeu no caminho e tudo / se encheu de perfume. Era uma acácia mimosa. Este último verso da
primeira das três estrofes introduz a presença da árvore em expressões que a
revelam muito além do simples pavilhão
florido como é anunciada na segunda estrofe. Ao longo do poema será catedral do pólen, profunda cidade das abelhas,
sol terrestre, explosão de perfume, cascata,
catarata, cabeleira de todo o amarelo
derramado, torre de luz fragrante,
prévia fogueira da primavera. Uma
presença que impressiona o Poeta, deixando-o sem fala ao comparar um Chile
hibernal à árvore que em meio ao sombrio da estação, dava gritos amarelos; ao ter, diante de si, a árvore amarela, / amarela / como nenhuma coisa pode
sê-lo,/ nem o canário. Nem o ouro, / nem a pele do limão, nem a gesta. E a
louva por se antepor ao inverno como / um
militar valente que, sem roupas e
sem armas, enfrenta os batalhões de chuva.
E a proclama colméia do mundo. Para então, como já o fizera
repetidas vezes, confessar a ânsia panteísta: ser besouro, ser vespa, ser pavão.
E, igualmente, como tantas vezes, exprimir o desejo, usando a primeira pessoa
do plural, queremos, incorporando-se
a outros homens ou fazendo a sua voz, também ser a de todos na vontade de
mergulhar no tremor perfumado da
árvore, na sua copa amarela, até ser,
apenas, perfume.
São
mais de cem versos, de uma a dez sílabas, em que o Poeta registra o irromper da
magia no seu prosaico andar pela cidade: a visão da árvore florida, o perfume
que dela se expande. Também, como é tão próprio dele, pensar no seu país de
montanhas geladas onde a árvore, no seu esplendor, lhe concede o direito de lhe
determinar um destino – ser colméia do mundo – e de expressar não apenas o seu
querer mas o querer de todos.

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