Era
o ano de 1550 quando, a mando do padre La Gasca,Vice-rei do Peru, saíram de Lima, duzentos espanhóis com seus índios
submetidos e um punhado de animais para se adentrar no Continente e fundar uma
cidade. Carlos Droguett, romancista chileno, relata esse episódio que se
encontra documentado nas Crónica de la Conquista
num excepcional romance, El hombre que
trasladaba las ciudades ( Noguer, Barcelona, 1975). Ambições, ódios,
temores, conduzem os homens para o desconhecido. Junto com eles, o começo da
destruição do Continente. No segundo capítulo, “Segundo traslado”, são
mencionadas as árvores e seu destino O padre Cedrón, ao se afastar dos
escombros da cidade destruída, para ser levada para outro sítio, caminha na
direção dos cerros onde ainda estava o
campo sozinho, as árvores sozinhas e terríveis, crescendo em desordem e
poderosas. Por vezes, elas são parte
do cenário: Os cerros estavam envoltos na
penumbra, além das árvores se destacavam as sombras de uns cavalos; das árvores pendiam laranjas, limões pálidos
que fugiam na penumbra, as flores ascendiam pelos troncos. Ou, transformadas
pelo vento e pela chuva: o vento
rumorejava distante, entre as árvores, o céu estava alto e descolorido, se
peneirava sobre as árvores e as agitava docemente, soprava com persistência
entre as copas das árvores, alto e
primaveril, incorporando e levando perfumes
e ramos das árvores. A chuva
escorrendo da copa das árvores e de seus ramos, ia lhe deixando gotas de água.
Também, se constitui presença junto aos homens: o padre Carvajal acorda e
escuta o rumor de água a escorrer vagarosa
e do vento entre as árvores, o ar entre
as árvores, descendo entre as folhas. O capitão sente a chuva encharcar-lhe
o rosto e como corre pelos ramos das árvores. Os espanhóis, percebem o cheiro das árvores
molhadas e, também, como
agarrados ao futuro, às portas da cidade que estava longe, aguardando com suas
casas abertas, com seus quartos vazios, cheios de montanhas e rios e cascata, a praça estava rodeada de enormes árvores
verdes. Sob o olhar do capitão, avistadas
de sua janela, as casas estão envolvidas pela luz do anoitecer como suas ruas e
a praça da igreja que se erguia, outra
vez, cheia de árvores novas. Em meio
às ovelhas e cabras, correndo entre os
móveis espalhados, as árvores cresciam
com renovada força, espantosamente
verdes e frondosas. Uma luta que se
mostraria desigual porque o ímpeto de sobreviver que as fazia irromper,
novamente da terra, para se tornar frondosas, se revela muito lenta ou ineficaz
diante da força destruidora de que são
vítimas. O padre Cedrón vindo da
primeira cidade onde ficara para enterrar os mortos, chega na segunda
cidade já, também, semi-destruída ao ver
o padre Carvajal extenuado e doente lhe
pergunta: padre, quem o havia metido na
vida sossegada da religião e depois na vida mortificada e aventureira dos missionários meio bandidos e
sem entranhas que tinham saído para o Novo Mundo junto com a piara de bandidos que talavam os bosques, rompiam
montanhas, fendiam a terra e matavam os índios ?

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