domingo, 1 de julho de 2007

O Poeta perguntador: El hondero entusiata




            Em 1933, com uma explicação de Pablo Neruda sobre esses versos, escritos dez anos antes, é publicado, pela Empresa Letras de Santiago El hondero entusiasta: expressão de uma juventude ardente e excessiva que se constituem um documento válido por aqueles que se interessam por sua poesia, ele diz .Quarenta anos mais tarde, no seu livro de memórias Confieso que he vivido, irá se referir à essa noite em que, antes de dormir, abriu as janelas de seu quarto em Temuco. O céu com todas as estrelas brilhando o deslumbrou e, de maneira delirante, como se recebesse um ditado, escreveu um poema. No dia seguinte, já em Santiago, o mostrou a seu amigo Alirio Oyarzún que, admirado, lhe perguntou se não fora influenciado por Carlos Sabat Erscaty. Pablo Neruda negou, mas, intrigado, escreveu ao poeta uruguaio, enviando-lhe o poema e a resposta não tardou: poucas vezes li um poema tão perfeito, tão magnífico, mas tenho que dizer-lhe, sim, há algo de Sabat Erscaty nos seus versos.
            No total são doze poemas, deveras grandiloqüentes com seus símiles, adjetivos inesperados, desejos de infinito, imagens que se perdem na distância, lirismo exacerbado e sombrio, antropomorfismo, pleonasmo, advérbios de modo, exaltação do eu e do próprio sentimento. Tons e recursos que não serão muito diferentes dos poemas, nos quais se insere, dominante, a presença feminina. Ou, apenas delineada: olhos enlutados, mariposa sangrenta, porém, possuidora das marés; ou, feita de espumas débeis e ligeiras, mas que não lhe são de valia porque no seu cansaço todos as folhas caem, morrem ./ Caem, morrem todos os pássaros. Caem, morrem as vidas; ou, repudiada pelo Poeta quando implora que se afaste porque sua alma deve estar sozinha. Evanescente, no poema cinco, iniciado pela palavra amiga em que pede e reitera que não morra, enumerando as próprias qualidades (sou eu o que nos lábios guarda sabor de uva, o que cortou jacintos para teu leito, e rosas), imprescindível na sua ânsia de entrega.

            Tinha o Poeta dezenove anos e, aliada às tristezas e desalentos da idade, as urgências de Eros, eludindo inquirições que se fazem, então, bem poucas. No primeiro poema, por que não há de ser ele a ultrapassar o limite da luz e da sombra? Nos demais (no quarto, no oitavo, no décimo), a pergunta é dirigida à mulher: se a sua presença é sentida por ela em todos os silêncios e todas as palavras?. E, dispondo-se a ser depositário de tudo o que ela sente pertencer-lhe e por ela ser possuído, ampliando esse desejo na ânsia de não querer limite, se alçar, pretender o tangível, o duradouro. Então se pergunta: quem irá romper esta vibração de minhas asas? No décimo poema, fala à mulher como  escrava minha, aceita que esteja dentro dele: longe, fugindo como um coro de névoas perseguidas. E indaga: perto de mim, mas onde?

            Ainda que um ser desconhecido cuja posse perseguia, para a sua juventude a mulher era a quimera alcançada, o caminho desejado, o porto atingido, o entrelaçamento inalterável, o desígnio fatal: amor e desamor. De certezas, apenas as emoções que a juventude lhe jogava à flor da pele.

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