Dirigido por Pedro Shimose, O diccionario de autores iberoamericanos, após mencionar as datas de nascimento e morte de Haroldo Conti, acrescenta uma informação pouco usual: foi um dos primeiros desaparecidos do governo argentino surgido a partir de março de 1976. Em junho do ano anterior, publicara seu livro de contos La balada del álamo Carolina. À semelhança de suas obras anteriores, Sudeste (1962), Todos los veranos ( 1964) e o inigualável Alrededor de la jaula (1967), nele se movem personagens na simplicidade de seus dias e de seus gestos repetidos, se desenham nesgas de paisagem, amores, loucos projetos, crenças que acompanham a ilusão dos outros. E, raro pelo seu tema e pela beleza de sua expressão, o conto que dá nome ao livro. Ainda que em prosa, o termo balada (composição poética que refere um acontecimento completo [...] e que se reveste de um tom sentimental e melancólico) define à perfeição o relato que faz Haroldo Conti da vida de uma árvore: este choupo nasceu aqui mesmo, cresceu sozinho, irrompendo da terra entre o capim duro, como se fosse mais um, exposto aos ventos e ao sol e aos bichos. A partir daí, o narrador passa a ser aquele que tudo sabe e pode contar o que pensa o choupo na trajetória de sua lenta vida: o dia em que percebeu que ultrapassava o capim, o outro em que o sol chegando mais forte, o intumesceu por dentro, tornando-o mais rijo e com uma grande atração para subir em direção ao céu. Dono do tempo, o narrador o acompanha nesse caminho: ver que o capim ficava lá embaixo, a cerca e, mais adiante, a estrada; perceber que lhe nasciam os ramos e que seu crescimento era mais vagaroso; divisar, dois anos depois, a primeira casa de um homem e atrás dela, relampejando, a estrada de ferro; outros anos passados, bem mais alto, vislumbrar o teto da casa e a chaminé, lançando, ao entardecer, um penacho de fumo. Também, no seu sentir: as transformações marcadas pela primavera quando renascem as folhas perdidas; se dar conta que mover-se era natural em grande parte de quanto vive e sofrer a dor de sua imobilidade só interrompida pelo vento. Imobilidade que ele busca ao saber o que é se converter numa casa ao abrigar o ninho feito de pequenos ramos cortados e enovelados com paciência; descobrir, um dia de manhã, com seus olhos verdes mais altos que aí perto havia um bosque, muitas árvores juntas, alta e rumorejante irmandade e se perguntar por que não estava também ali? Por que tinha nascido solitário? Das respostas, vindas pelas raízes, o narrador não soube dizer. Sim que o choupo foi feliz com o vento a lhe agitar as folhas, com a chuva a lhe escurecer os galhos, com a espera do verão.
Foi no verão, o sol muito alto, sua
sombra muito grande quando viu o homem se aproximar dele. Desceu do cavalo, tirou o
chapéu empoeirado, olhou para cima, aspirou o odor das suas folhas e com a
manga da camisa secou o suor da testa. Sentou-se perto dele, se recostou no seu
tronco e adormeceu.

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