Neste
soneto VIII, em decassílabos e composição métrica tradicional, como em quase
todos os demais, há o lastimar de uma ausência. A primeira estrofe, se inicia
com o verbo recordar ( no presente e na primeira pessoa): um passado longínquo
e ditoso em dias de luz mansa, de brinquedo novo. Momento que é interrompido,
porém, na segunda estrofe, pelo vento da desesperança. As palavras agora
– cinzas, noite morta, galharia torta- anunciam a perda do
irrecuperável: os brinquedos de criança. No primeiro terceto é, então,
instituído o ritmo da vida adulta : o passar do tempo, a idade que avança. E,
instaurada a presença de seus presumíveis ouvintes no aviso prudente de que não
se iludam com sua aparência de velho.
Porque, como explicita no segundo terceto, pedindo a esses ouvintes que não acreditem nele, expressa a
vontade de, novamente, ter a posse de seus brinquedos por não passar de um
menino Que envelheceu, um dia, de
repente!...
Tânia
Franco Carvalhal no breve estudo, “Quintana, entre o sonhado e o vivido”,
publicado no volume seis da coleção Autores Gaúchos que o Instituto Estadual do
Livro do Rio Grande do Sul lhe dedica, menciona esta visão de mundo do poeta
que recria a infância a cada revês da
vida.
Porém,
o seu vago País de Trebizonda, a
voz que ouvira em pequenino, o som das valsas
antigas e dos velhos ritornelos, a
pequena rua em que vivera, a estrela que apareceu no céu azul da infância, tanto quanto as expressões luminosas – As estrelinhas cantam como grilos, Num claro riso as tabuletas riram, O dia abriu seu pára-sol bordado, Triste encanto das tardes borralheiras - serão o contra-ponto das tristezas que ele aprisiona
nos seus poemas de quatorze versos. Como, igualmente, prende o mundo mágico em
que os sapatos velhos florescem ou sonham que são barcos encalhados / Sobre a margem tranqüila de um açude. O mundo em que
os ventos falam e a torre da igreja fica a cismar; em que em que emerge a
alegre e colorida realidade dos lindos pregões da madrugada, em que Lua, aparece ao meio-dia e à tarde, os belos
crepúsculos da cidade. Em que o céu é azul, em
que há verde ramaria, e burricos a
pastar na praça. Um mundo em que poeta faz versos ainda que seja só para disfarçar.

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