Desce do bonde e por acaso, ao entrar num
armazém de fim de linha para a compra de cigarros, ele aceita o convite de
quatro rapazes que lá estavam e segue junto para a praia no passeio que deveria
durar um dia e que, para ele e para um deles, Norberto, acabou resultando num tempo bem maior e em acontecimentos que foram surgindo e os
levaram até o Rio de Janeiro de onde volta para o lugar de sua infância, às
margens do Cati, no extremo sul do Rio
Grande.
Ele
é mencionado de vários modos: o passageiro, o outro, o pobre, o amigo, o companheiro, o Cati, o maluco, o
louco e, de muitos outros. Registrado o seu caminhar, o chapéu que usa, o jeito
de comer, um grande medo diante de certas situações, algum gesto. Porém, parcamente é
ouvida a voz desse personagem que dá título ao romance de
Dyonélio Machado, O Louco do Cati (
Porto Alegre, Globo, 1942 e a recente edição da Editora Planeta). Uma voz que, rara vez, diz umas poucas palavras.
Ouvidas, atraem o olhar do interlocutor que, no entanto, se depara, apenas, com
seu rosto de expressão distante.
Logo
no começo do passeio, o rapaz que dirigia o pequeno caminhão, pergunta o nome
do outro, que viajava na carroceria. Diante da resposta, - Maneco Manivela, conclui: -
Tem um nome engraçado. Opinião que,
imediatamente, provoca uma
tentativa para explicá-lo: -De
certo é um apelido. O que perguntara e Norberto, também viajando na cabine,
com o “maluco”, se tornaram com vivacidade
mas, ele já estava outra vez olhando prá frente, pra longe....
Quando,
no Rio de Janeiro, Norberto que o levara para lá, tentando conseguir-lhe uma passagem de volta para o Rio
Grande do Sul, se dirige à polícia, um
dos funcionários pergunta se ele pensava voltar por mar. -Eu quero por terra. Aquela voz soou no gabinete com um tom estranho, subterrâneo. Os dois fitaram o maluco. Ele não tinha nenhum
outro desejo a exprimir. Assumira outra
vez o ar indiferente. Na hora em que
devia deixa a pensão, se recusa a partir e fica imóvel até o momento em que
Nanci, a filha da dona, procura convencê-lo e é para ela que dirá num sussurro:
- Eles vão me levar pra o Cati... A
moça acha graça e Norberto explica que se tratava de uma esquisitice dele. E
consegue levá-lo para o embarque.
Já
em Lages, é hospedado pelo motorista do caminhão que o levara desde
Florianópolis. À mesa, lhe pergunta o nome. O
outro ainda engolia. Suspendeu-se um momento. O dono da casa viu a sua
atrapalhação. Engula primeiro – sugeriu-lhe. Foi o
que ele fez. E falou depois num apelido... num apelido que ultimamente... -Como
é o apelido? – Ah! Isso mesmo – considerou ao ouvir a resposta do outro.
Sem
dúvida, uma incomum estrutura do diálogo. Mostra o domínio que tem Dyonélio
Machado de sua narrativa e o talento ímpar que lhe permite criar um personagem cuja extrema parcimônia de
expressão lhe inteira um perfil que é um dos mais intrigantes e comovedores do
romance brasileiro.

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