Em
Porto Alegre, por acaso, ao entrar num armazém de fim de linha para comprar
cigarros, ele aceita o convite de quatro rapazes que lá estavam e segue junto
para a praia no passeio que deveria durar um dia e que, para ele e para
Norberto, acabou resultando num tempo bem maior e em acontecimentos que foram
surgindo e os levaram até o Rio de Janeiro de onde ele volta para o lugar de
sua infância, às margens do Cati, no extremo sul do Rio Grande.
É
revelado pelo olhar dos outros, pela vontade
alheia que decide por ele. Rara vez eleva a voz para dizer uma breve
frase que logo se esvai como se fosse dita para si mesmo ou porque mal é levada
a sério pelo interlocutor. Ou que é surpreendida por aquele que narra.
Já
de volta para o Sul, Geraldo, o motorista que o havia conduzido de
Florianópolis para Lages, pede a um conhecido seu, um sujeito grandalhão, que tratavam de coronel que o leve para o
Rio Grande. E, assim, de carro, ele segue até Caxias de onde continuariam a viagem de trem. Na
estação, ao comprar a passagem para Santa Maria, surpreende o coronel que lhe
pergunta: - O amigo não é então de Porto
Alegre? A resposta, lacônica, é referida pelo narrador, Era e se constitui um parágrafo, seguido
de outro, igualmente de uma só palavra: Pausa.
Logo, a insistência do coronel: Pretendia
porém ir até Santa Maria, arriscava o
outro - Tem negócio lá? Não houve
resposta o que induziu o coronel a observá-lo o que não havia feito até então.
Percebe seu traje ( o chapéu forçando as orelhas, a capa de borracha mostrando
ser de segunda mão) e o seu gesto de querer por o dinheiro e a passagem no
bolso interno da capa sem desabotoá-la. A partir daí, o narrador fala do tempo,
da chuva que não dá trégua.


Em
Santa Maria, o coronel o convence para um passeio até o centro da cidade,
apesar da chuva e não parava de falar mas, o barulho da tempestade impedia de ser ouvido pelo outro. Gritou para lhe
perguntar em que mês estivera em São Paulo. Depois
de se informar, o coronel refletiu,
calculou e chegou à conclusão de que
há um mês ( época em que o outro
passara lá) ele ainda não se tinha movido da fronteira para aquela viagem de
exploração à capital do grande Estado. –
E o amigo gostou? Outra vez é o narrador que responde pelo seu personagem –Gostara. Resposta que, também, se constitui um
parágrafo e é seguida por outro, constituído, ainda outra vez, da
palavra Pausa. No seguinte, a
continuação do relato desse passeio noturno em baixo de chuva.
Apropriando-se
da voz de seu personagem, Dyonélio Machado instaura um inusitado diálogo. Inusitado que também
está presente, e sob diferentes estruturas, na maioria daqueles em que se
comunicam os que fazem parte da grande galeria de tipos que povoa o universo de
O Louco do Cati ( Porto Alegre,
Globo, 1942 e recente edição da Editora Planeta). Como outros tantos outros, se
trata de um recurso que reafirma o virtuosismo narrativo do escritor gaúcho.
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