Em fevereiro
de 1981, a Bruguera de Barcelona publicou Textos Costeños, primeiro
volume da obra jornalística de Gabriel García Márquez, escrita entre o início
de 1948 e o final de 1952. Três de seus contos já haviam saído no suplemento
literário de El Espectador de Bogotá e ele cursava o segundo ano de
Direito quando a Universidade de Bogotá foi fechada devido aos motins do dia 9
de abril de 1948. Foi, então para Cartagena no intuito de continuar o seu
curso. O encontro casual com o médico e
escritor Manuel Zapata Olivella o levou até
a sede de El Universal, periódico recém fundado. Embora estivesse
convencido de que o jornalismo não era a sua vocação, a teimosia do amigo,
argumentando que Literatura e Jornalismo acabam por ser a mesma coisa, o fato
de ser apresentado ao Chefe de Redação e, ainda, a nota publicada, anunciando-o
como um colaborador que imperativos sentimentais haviam feito retornar à Costa
Atlântica, de onde era oriundo, o
fizeram aceitar a tarefa. Então, a partir do dia seguinte, 21 de maio de 1948,
até meados de novembro de 1949, seus textos, identificados pelas iniciais ou
pelo nome completo, foram publicados sob a rubrica “Punto y aparte”, na quarta
página do jornal.
No
total, foram cento e trinta e oito artigos. Têm por assunto ou algum
irrelevante fato do dia, como o nascimento de gêmeos na cidade, o cessar do
toque de recolher, um espantalho caído, a presença dos helicópteros nos céus do
país; ou breves perfis de tipos humanos que encontra: o homem com a cicatriz no
rosto, o liberal morto pela polícia, os boxeadores, o toureiro, o domador de leões. Também,
comentários sobre poetas e romancistas, sobre cinema, sobre o tempo marcado
pelo calendário, sobre o amor, a morte, a paz.
No
primeiro artigo publicado, qualifica o silêncio imposto pelo toque de recolher
na cidade de longo silêncio duro,
concreto e grande, pesado,
inexpressivo e se contrapondo ao bom
silêncio elementar das coisas
menores, descomplicado: esse silêncio natural e espontâneo carregado de
segredos que passeia pelas sacadas. Maior, porém, que no acúmulo do
adjetivo, é em relação a outros elementos da frase que se mostra a sua
expressividade. Assim, também nesse artigo, se referindo ao som de clarinete
que determinava o toque de recolher diz que ele se adiantava ao novo dia como
outro galo grande, enganado e absurdo que tinha perdido a noção de seu tempo.
Tais seqüências revelam, certamente, mais o literato do que o aprendiz de
jornalista. No seu livro de memórias irá lembrar que esse texto fôra o relato
subjetivo de um episódio pessoal e sem pretensão de ser um comentário
jornalístico. No entanto, seja porque se ouviu a si mesmo, seja porque escutou
de terceiros, no seu sexto artigo, irá falar de um novo, inteligente e estranho personagem que se incorporara à mesa
de redação. Não lhe cita o nome e o descreve nos gestos senhoriais e nas palavras
usadas em defesa do idioma e faz constar que a
caricatura que dele fez Hector Rojas Herazo, ficou pendurada num prego.
E que, então, desse pedaço de papel ele sai para espiar por cima do ombro de
quem escreve, no intuito de estabelecer a mais implacável campanha
purificadora. E que, para ele, Gabriel García Márquez, diz que nunca aprenderá
a escrever, aconselhando: Pare de
bobagens e diga coisas que tenham substância. É preciso iniciar uma campanha
contra a frondosidade lírica, eliminar essa adjetivação de duas por centavo. Um
verdadeiro trabalho de sanidade literária. Conselho que, dado por um
personagem real ou inventado, não foi, no entanto, muito levado a sério. Os
adjetivos continuaram, como que imprescindíveis (restringindo, explicando,
qualificando) a pontilhar seus textos embora, raramente, se mostrando na perfeição
dos verdadeiros achados estilísticos.
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