Chama
a atenção de um dos generais, destacado para combater a Guerrilha do Araguaia a
escolha da região: Vegetação densa,
grandes árvores, copas fechadas e cipós entrelaçados impedem a visibilidade,
mesmo do alto, a bordo de aviões e helicópteros.
Abrigo natural. No entanto, ao estudar a área, se dá conta de que
outros são os motivos predominantes dessa escolha: grande parte da
população é analfabeta, a água não é
tratada e os moradores padecem de verminose e em muitos casos de hanseníase.
Operação Araguaia: os arquivos secretos
da guerrilha ( São Paulo, Geração
Editorial, 2005), minuciosamente, refaz o
itinerário dos militantes que se internaram na Floresta Amazônica, entre
1972 e 1976, seguindo o sonho, que
acreditavam ser possível: mudar o
destino dos brasileiros. Ao longo de suas
656 páginas, Taís Morais e Eumano Silva, num excepcional trabalho de
pesquisa jornalística, relatam, entre
histórias de vida - com seus aprendizados diante da solidariedade e das
vitórias, das traições e das derrotas - as ações guerrilheiras e as operações
militares que tinham por objetivo interceptá-las. Mostram, também, repetindo-se
e tornando a repetir, a realidade de um país totalmente desconhecido dos
brasileiros que, no entanto, se
revela igual àquele em que eles vivem :
sempre o descaso pela população, entregue à miséria, à doença, à falta de
condições de trabalho; sempre a lei do mais forte, imperando, ajudada pelas
autoridades que deviam cercear-lhes as ações predatórias e, por vezes,
criminosas. Sempre a corrupção.
Os
militantes do Araguaia tentavam ajudar essa população esquecida que aí vivia,
procurando fazê-los entender que uma transformação seria possível.
Para
neutralizar esse trabalho de aproximação do militantes com os moradores e, por
sua vez, para coaptá-los, para mascarar
a sua inusitada presença, os militares, em missão no Araguaia, criaram a Aciso
( Ações cívico-sociais) e a realizaram esporadicamente
Durante
a Operação Papagaio, em Xambioá e Araguatim,
por exemplo, grupos de médicos,
dentistas, pedagogos, agrônomos, veterinários, percorreram a zona rural e um
grande número de pessoas recebeu atendimento. Palestras, gincanas, competições
esportivas, ações cívicas, completaram a
programação desenvolvida entre 21 e 28
de setembro de 1972, numa tentativa das Forças Armadas, de fazer em oito dias os que os governos
nunca fizeram pela população do Araguaia .Diante do elevado número de
pessoas atendidas, demonstrando quanto os habitantes da região eram privados
dos mais elementares serviços e, não somente na área da Saúde e da
Educação, os militares responsáveis pela
sua realização, no entanto, não se iludiram. No parecer final de seu relatório,
o coronel, sob cuja égide essa Aciso se realizou, diz que o atendimento médico e odontológico possível em uma Operação Aciso, de
curta duração, serve, apenas, de paliativo face às precárias condições da
população assistida.
Num
outro relatório, onde ficaram
registradas as ações contra os militantes, o general que o assina, após
analisar os quesito militares
pertinentes, se detém em vários aspectos da região: a dificuldade de
comunicação, a ausência da atuação dos governos locais, os aspectos econômicos.
Sugere que sejam tomadas várias providências no sentido de oferecer melhorias
de vida a uma população absolutamente carente de todos os seus direitos
Mas,
originada de intenções bem precisas e, coerente com elas, a Aciso deixou de ter
sentido quando o confronto entre soldados do Exército e militantes, na
região, chegou ao fim. E a população do
Araguaia, novamente entregue a si mesma,
voltou a ser ignorada como sempre fora.

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