De
Huntington Beach, nos Estados Unidos, Adrian Kojin partiu na sua Honda XL600,
com a prancha de surfista convicto, seguindo a costa do Pacífico: México,
Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Colômbia,
Equador, Peru. E Chile, de onde, atravessando um longo túnel chegou, já em companhia
da mulher, à Argentina e, de barco, atravessando o Rio da Prata, ao Uruguai e
então, pelo Chuí, ao Brasil. Meses se haviam passado numa viagem sempre marcada
pelo inesperado e que é contada por alguém não somente talentoso para a escrita ( como a sua opção por um curso de jornalismo,
ainda que abandonado no segundo ano, poderia levar a prever), mas,
principalmente, possuidor de uma sensibilidade que lhe permitiu captar muitas
das múltiplas nuanças do mundo que,
então, se lhe deparava. Surfista a escrever
sobre o surfe, ao combinar anotações de
seu diário de viagem com as que fizera, aleatoriamente num caderno, preenchendo
as possíveis lacunas com as lembranças de fatos e de sensações que lhe ficaram,
no seu texto, se encontra muito mais do que um registro de suas peripécias nos
caminhos desconhecidos ou das emoções vividas entre as ondas. Testemunha sobre
momentos de amizade e atos solidários; sobre a beleza do Continente; sobre uma
beleza fugaz que se dissipa.
Pequenas
descrições dizem dessa América
entrevista na sua gente, nos seus
campos, nos seus pássaros, numa paisagem urbana, nos efêmeros efeitos de luz.
São os descendentes dos incas a ordenhar as vacas, a alimentar a criação; as
mulheres maias a tecer fascinantes vestimentas coloridas; os negros costarriquenhos
a caminhar pelas ruas de cabeça erguida,
orgulhosos. São os campos de aveia, cevada, trigo, milho, batatas,
hortaliças. Um vale coberto de cana, de algodão, arroz e milho e um outro, florescendo milagroso. Lavouras em
terrenos irrigados a formar um bem cuidado tapete verde. Gado e cavalos.
Ovelhas, pastando, cuidadas por pastores. E rios, corredeiras, cascatas, árvores centenárias quase da altura do céu.
Nos pampas, olivais e vinhedo e pastagens.
O mais
belo gado, os mais belos cavalos. Águias de garras afiadas. Cegonhas de longas
asas. Ninhos nas árvores. Patos,
garças e mergulhões nos charcos. Em São Salvador, é a visão de pelicanos a voar alinhados em formato triangular simétrico
rumo ao sul; no Canal do Panamá, onde a sua entrada, enormes navios esperavam
para passar de um oceano ao outro, é a
de milhares de pássaros marinhos revoando
sobre as águas. Das cidades, a lembrança de León, na Nicarágua, com suas
igrejas e velhas construções e o encanto
das casinhas coloniais com teto de
telhas avermelhadas; e de Arequipa, no Peru, toda branca, como que a
repousar no esplendoroso valedo
vulcão Misti.
Entremeadas
ao que descreve, breves seqüências
revelam suas emoções. A de contemplar, numa praia deserta, as estrelas cadentes
que deixavam um rastro de luz no céu e
corriam em todos os sentidos, às
vezes ao mesmo tempo: a de se sentir no meio das ondas, cavernas infinitas, transparências, sagradas; a
de ver o sol tingindo a água de dourado, e a luz nascer laranja, inteira do ventre das palmeiras para iluminar toda a poesia de
uma choça abandonada.
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