A
capa não somente é harmoniosa e
instigante mas, a síntese do livro: foto
de Machu Pichu, de palmeiras, de ondas do mar, de um detalhe da vida do Continente
na placa de um carro onde além do número da matrícula aparece a expressão
“Nicarágua libre”, num muro em que
bandeiras e frases pintadas – Trabajar
avanzar combatir vencer, En la
montaña enterraremos el corazón del
enimigo- expressam anseios. E a de
um homem jovem, na sua moto equipada para viagem e carregando, também, uma prancha de surfe. Em letras pequenas,
inusual modéstia, o nome do autor, Adrian Kojin. Nos dados de Catalogação de Alma panamericana: uma aventura de 25 mil
Km por 14 países, a constar que se trata de aventuras e viagens, a ausência
de um assunto, o surfe, que é uma das razões e não a menor, da viagem iniciada
em outubro de 1987, no sul da costa oeste dos Estados Unidos.
Adrian
Kojin pretendia, seguindo a costa do Pacífico, no Chile, atravessar os Andes,
percorrer os pampas, chegar até Buenos Aires, logo, Montevidéu e, enfim, o
Brasil. No relato que fez da viagem que, tanto no que se refere às pessoas com
as quais se relacionou quanto às diferentes paisagens que se ofereceram a seus
olhos, não foi avara de surpresas ele foi além de fixar o pitoresco ou a
grandiosidade da natureza. O prazer de percorrer as estradas do Continente e de
surfar em ondas já famosas ou que então descobriu, se enriquece com as breves
cenas que vislumbra num aflorar de emoções: a velhinha, de cabelos
brancos, vencendo o medo, para
atravessar uma pequena ponte que treme
quando os carros passam. A outra, humilde,
vestida de negro e ajoelhada em
frente ao altar no interior de uma
igreja, a erguer a voz para entoar um hino religioso, intensamente belo e profundamente espiritual .
Emoções
que, também, podem ser dolorosas na
indignação diante da violência que presencia. Despertado no meio da noite por
um choro de mulher, entreabre a porta de seu quarto de hotel: vê um
sujeito fardado, levando nas costas, uma
moça que se debatia e chorava em desespero o que, não provocou reação
alguma nem mereceu, na manhã seguinte, qualquer
comentário. Noutra cidade, presencia o espancamento de um menino de rua pelos
guardas particulares de um prédio que o arrastam , passando diante de um grupo de pessoas bem vestidas que assistia
impassível à cena, enquanto a criança ensangüentada pedia socorro. Cenas que,
certamente são um lugar comum no Continente
tanto quanto as pragas da maioria
dos países do terceiro mundo, como a falta de empregos, os baixos salários e um
sistema educacional falido [...]. Além delas, Adrian Kojin constata essa
outra: a admiração sem limite de uma
certa classe pelos que vivem ao norte do rio Bravo que se expressa no
entusiasmo pelos seus filmes, pelos carros que fabricam, pelas roupas e,
principalmente no esforço despendido em imitá-los, seja nas conversas ou
maneira de agir. No entanto, é sabido, o quanto estão distantes dessa realidade
que buscam imitar sem perceber o papel que lhes competiria para mitigar, no seu
próprio meio, as injustiças que dominam,
soberanas, nas relações de classes.
Numa
feira, na Guatemala, onde os índios trocavam e vendiam seus
produtos, Adrian Kojin pode ver um Porsche
último modelo sumir nas curvas da estrada. Na Colômbia, em meio às riquezas
dos plantios e das pastagens, povoadas de gado gordo e cavalos de raça, camponeses curvados sobre a terra e fazendeiros
em vistosas caminhonetes.
Numa
praia do México, Adrian Kojin surfa solitário. Aparecem golfinhos, uma foca. A
água é transparente. Então, lhe parece incrível
que apenas 400 quilômetros ao norte existissem usinas nucleares, soldados
mariners em permanente treinamento para a guerra, caças supersônicos dando
rasantes e poços de petróleo no meio da praia.
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