Operação Araguaia: os arquivos secretos da
guerrilha de Tais Morais e Eumano Silva (São Paulo, Geração, 2005), conta
dessas palavras que nasceram em algum lugar da Amazônia. Dispostos a
enfrentar fome, cansaço, ferimentos, doenças, prisão, tortura e morte em nome
da liberdade, quatro guerrilheiros escrevem, no dia 20 de
junho de 1972, para dom Estevão Cardoso de Avelar, bispo de Marabá.
Reconhecendo-se combatentes, o elogiam
pelas graves denúncias que fez na Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil, contra os militares em operação
no Araguaia, às margens do qual eles fazem parte do destacamento A. De um lugar das matas amazônicas, a
convicção que os move não lhes permite duvidar de que as causas justas, mais dias, menos dia, triunfam. No entanto, seus
meios para lutar contra a ditadura e levar ao poder um governo em acorde com os
interesses dos brasileiros, eram por demais incipientes. Se muitos
guerrilheiros conheciam a região, sabiam se orientar pelos astros e pela
bússola; se recebiam treinamento quanto à prática de acampar e de fazer
caminhadas diurnas e noturnas e quanto aos meios de sobreviver na selva; se
adquiriram condições de realizar emboscadas e assaltos aos inimigos e de usar
armas, suas deficiências eram importantes e numerosas. As precárias condições de higiene em que
viviam e os obstáculos para conseguir produtos básicos, lhes ocasionavam problemas de saúde: as
poucas armas de que dispunham eram
obsoletas e careciam de munição suficiente;
o equipamento composto de
mochilas de couro ou lona que, muitas vezes, eles próprios faziam, onde carregavam alimentos e remédios e
armas o que, em princípio, deveria ser
suficiente para a vida na floresta, muitas vezes, se perdiam nas fugas
precipitadas quando deixavam para trás os seus parcos pertences. Em contrapartida, os soldados do Exército
cuja missão era a de fazê-los prisioneiros ou matá-los, embora no início das
operações também tivessem enfrentado dificuldades, contaram com planejamento e com recursos. Assim, o
confronto entre guerrilheiros e militares se deu em condições
profundamente desiguais.
Em
setembro de 1972, a Operação Papagaio contou com mais de três mil homens ,
transportados, assim como cinqüenta e sete toneladas de alimento, em veículos cuja fila se estendia por
centenas de quilômetros. Nos pontos de apoio, montados pelo Grupamento
Logístico, os soldados tinham local para pernoite, jantar quente, café da manhã
e merenda fria para o almoço.
No
território em que se movimentavam militantes e soldados do Exército,
a população ribeirinha, aquela aglomerada em
pobres núcleos urbanos ou espalhada pelas paragens distantes continuava a
sofrer com a escassez de alimentos,
com
a malária e a leishmaniose, com a falta de remédios e de estrutura hospitalar;
continuava a se submeter às violências e aos desmandos dos grandes
proprietários e das autoridades.
A gente sofrida do Araguaia precisa encontrar
o caminho para reclamar os direitos, diz uma carta do Comando das Forças Guerrilheiras do Araguaia, em junho de 1972, escrita De um recanto da selva amazônica, sul do Pará. A mensagem, dirigida ao povo brasileiro , revela a
existência de sonhos de um país melhor que os militantes, caçados pelos
soldados do Exército, procuravam tornar
realidade, optando por uma luta cuja verdadeira dimensão ignoravam.
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