Operação
Araguaia:os arquivos secretos da guerrilha
que a Geração Editorial de São Paulo acaba de publicar, neste mês de
abril, é uma obra imprescindível como todas as que se dispõem contar o que a
História oficial tenta escamotear, esconder ou negar. Com base em documentos produzidos por integrantes das
Forças Armadas e guerrilheiros, entrevistas com moradores da região, sobreviventes da luta e familiares, coletados
por Taís Morais e analisados, juntamente com Eumano Silva, num trabalho de três
anos, é uma obra que, além da
importância dos documentos que apresenta e dos fatos que relata, tem a
qualidade da clareza que, inclusive, se mostra, também, no índice remissivo, de
extrema importância em textos que se constituirão, um valioso material de
consulta. Igualmente, se constitui um comovente
testemunho sobre a trajetória
desses brasileiros que acreditaram ser possível mudar uma ordem estabelecida
- que tem se mostrado inexpugnável -
e daqueles que, parte do Exército, foram mortos sem conhecerem as razões pelas
quais perderam a vida.
Jovens
do interior do Brasil, oriundos de família numerosa que desejavam ajudar,
lutando no seu próprio pais em campos opostos, José Maurílio Patrício e Ovídio
França Gomes tiveram, ambos, seu destino selado em 1974.
José
Maurílio Patrício, nascido, em 1944, num
povoado do Espírito Santo, segundo filho dos sete de um casal nordestino, teve
uma infância feliz .Desejava comprar uma Kombi para levar seus país e irmão
passear em Sergipe onde estavam as raízes da família. Como estudante de
Agronomia, o gosto de ler e de estudar o
aproximou do movimento estudantil e da
atuação política. Em 1970, foi
para o Araguaia e se integrou no Destacamento B, recebendo o codinome de Manoel. Desaparecido
em 1973, a Marinha registrou sua morte em 1974.
Ovídio
França Gomes era o mais velho de seus doze irmãos e o apego pela família fez
com que desde cedo procurasse melhorar-lhes o padrão de vida o que foi possível
graças a seu soldo de soldado e,
depois, de cabo. Em fevereiro de 1974,
se encontra nas selvas do Pará, parte de um pelotão
de jovens inexperientes em ações de contraguerrilha. Ao fazer uma ronda com
os demais companheiros, volta na frente. O soldado encarregado de fazer a
comida e vigiar o acampamento,
não reconhece o vulto que se aproxima e dispara.
Ovídio morre aos vinte e seis anos, metralhado por engano.
Entre
os militantes guerrilheiros e os soldados do Exército, os habitantes da região.
Muitos, prestavam ajuda desinteressada aos militantes, deixando de informar sua
presença, atendendo pedidos para compra de alimentos, para cuidar da lavoura, dos animais, para dar comida ou um pouso. Outros, talvez, movidos por interesse pois o Exército oferecia dinheiro por informações, auxiliavam
os militares ou guiando-os na mata, ou delatando ou entregando os
militantes. Em maio de 1972,
guerrilheiros do Destacamento C
iriam passar pela casa de um camponês que se dispusera a comprar um rolo de fumo. Um
dos militantes que já o ajudara muitas vezes, o considerava um amigo e isto
não era compartilhado pelos demais. Mesmo assim, Bérgson Gurjão Farias
guiava o grupo até sua casa. Antes de chegar, uma rajada de metralhadora deixou
seu corpo crivado de balas. Foi o primeiro militante morto no Araguaia.
Miguel, um dos que conseguiu fugir
da emboscada, diante de um novo perigo,
torna a fugir e sobrevive quatro dias, perambulando na selva. Ao avistar
uma casa, se aproxima e, faminto,
esquece a precaução. Pede comida. Aquele a quem se dirigira o observa, entra em casa e volta com um prato branco, aquele de estanho esmaltado,
cheio de leite com farinha” Miguel
leva à boca a primeira colherada. Mas não a segunda pois a bota de
um soldado chuta o prato para longe.
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