“El
jacarandá”, “El plátano”, “El cuxín”,
“El ginkgo” são textos de Bocas del tiempo (Siglo XXI, 2004), em que,
entrelaçadas, se confundem as histórias das árvores e dos homens. Em “El
ginkgo”, Eduardo Galeano relata que, uma dessas árvores, já velha, estava perto
de um templo budista em Hiroshima. No dia em que a explosão atômica destruiu a
cidade, também, como tudo, foi transformada em carvão. Três anos depois, porém,
começou a renascer num pequeno broto verde. Vida vitoriosa, cresceu e deu
flores, surgindo em meio ao definitivo e imperdoável caos que os humanos
impuseram, num dia 6 de agosto de 1945, aos humanos. Conclui com a breve frase:
“Para que se saiba”. Uma constante que norteou, sempre, a obra de Eduardo
Galeano, desde seu imprescindível Las venas abiertas de América Latina
que, junto com os demais, que se lhe seguiram, Dias y noches de amor y
de guerra, Memorias del fuego, El libro de los abrazos ou La
canción de nosotros, fez com que se revelasse um Continente, até
então, conhecido por muito poucos. Sobretudo, no que diz respeito às
desigualdades sociais de uma estrutura política e econômica malsã, levada ao
paroxismo que faz de grande parte de seus habitantes, verdadeiros párias
sociais e à submissão às potências estrangeiras ou à potência que vem ditando,
sem restrições, as suas ordens para o mundo inteiro.
Neste livro de
2004, Eduardo Galeano, tampouco, abre mão desses temas essenciais e ainda
pertinentes. De fato, nada mudou nesses anos todos a não ser a designação dos governos latino-americanos
que, de incansáveis ditaduras, passaram a se intitular democracias. Elas
permitem algumas liberdades: o cidadão pode falar e escrever; a palavra fome
deixou de ser tabu para fazer parte do vocabulário da moda; os parlamentares
simulam legislar. Os privilégios, no entanto,
continuam sendo apenas de alguns, os ladrões do patrimônio público
seguem sem punição, as reformas que poderiam originar a distribuição de renda
necessária a uma vida provida de um mínimo básico – direito de cada um – não se
institucionalizaram. E nesses países, onde tudo está por fazer para que o
alimento necessário chegue à mesa de todos, para que exista uma verdadeira
assistência médica, uma real instrução e profissionalização e a existência de
moradias suficientes e adequadas, os desprotegidos do sistema continuam sendo
vítimas, sem defesa, da incúria dos governos que se sucedem.
Páginas
depois, o escritor uruguaio menciona o destino dessas velhas árvores gigantes
que, há séculos, estão cravadas no fundo
da terra e não podem fugir das serras elétricas movidas pela cobiça e pela
ganância irresponsável. Então, o mundo, pela vontade de alguns, delas é despojado – e despojados são os pássaros de
seus ninhos com as derrubadas – para que, em seu lugar, surjam as árvores rentáveis: crescem rápido e rápido
significam lucros, divididos entre os que pouco se importam se nesses bosques
as raízes depauperam a terra e se os galhos não mais albergam pássaros. Eduardo
Galeano diz que são chamados de bosques do silêncio. Certamente, para a grande maioria das pessoas, sempre
pendente do prazer de possuir o supérfluo e incapaz de entender outra linguagem
senão a do dinheiro e ciosa de preservar a ignorância em relação a tudo que não
seja seu minúsculo cenário, a presença, ou não, do verde de uma árvore, no
mundo, pouco importa. Menos o que esta árvore, no seu silêncio, possa
expressar.


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