A
Summus Editorial ao lançar Do ideal e da glória: problemas inculturais
brasileiros, de Osman Lins, justifica a decisão de reunir em livro
uma seleção de seus textos dispersos em jornais: numa época de cautelas e de medos, onde tudo é dito de maneira dúbia,
respira o leitor, com alegria, nesse livro franco e viril, o ar sempre
reconfortante de franqueza e da coragem de dizer. Coragem, sem dúvida, teve Osman Lins ao
examinar livros didáticos, problemas do escritor no Brasil e aspectos do ensino
universitário, sem escamotear-lhes nem os defeitos, nem os vícios, nem as
imperfeições que o levaram, ao agrupá-los, a cunhar a significativa expressão problemas inculturais brasileiros.
“Reflexões
sobre um quadro negro” foi publicado em 1976. Discute as razões da grande
aceitação, nos campos de Letras, das doutrinas que entendem o texto literário
como um sistema imanente, liberto das
relações com o sentir dos homens e com os fatos sociais e políticos da
sociedade onde são gerados. Na época, tal modo de aproximação do texto
literário se congregava nas várias modalidades do estruturalismo, corrente que,
havendo se expandido nos principais centros universitários da Europa, encontrou
solo fértil no Brasil, sempre tão receptivo a tudo que chega do hemisfério
norte. Osman Lins sintetiza o seu postulado básico: no estudo da literatura o que deve interessar é o texto em si, suas
conexões, sua organização. As idéias,
por mais profundas, mais justas ou mais afortunadas que sejam, não fazem
literatura. As interpretações da obra e as tentativas de estabelecer conexões
com algo que lhes seja exterior pecam pelo arbítrio e estão ultrapassadas. Diante de uma doutrina tão clara e linear, ele
se propõe, no entanto, refletir sobre o quê, exatamente, a torna tão sedutora e
aceitável nos cursos de Letras brasileiros. Começa por retomar a questão do
nível intelectual dos que ingressam na faculdade, que, a cada ano, deixa mais a
desejar. O que se torna inquestionável, quando submete, aos seus alunos do
quarto e sexto semestre de Literatura Brasileira, um questionário com dez
quesitos, envolvendo conhecimentos superficiais de Literatura. O resultado
demonstrou, não apenas a insuficiência, a imaturidade e o despreparo deles,
mas, também, o dos professores que dessas insuficiências não se dão conta,
ministrando cursos, baseados no que aprenderam na Europa ou em revistas
estrangeiras, sem reconhecer que tais alunos não são interlocutores (ou, mais
propriamente, ouvintes) aptos a absorver
tais conteúdos.
Os
anos passaram, proliferaram, no país, os cursos de Letras e conseqüentes
Mestrados, Doutorados, Pós-Doutorados, cujas deficiências – salvo as sempre
raras e honrosas exceções – dificilmente são sanadas. E o mundo editorial
continuou preso aos velhos hábitos de publicar, preferentemente, os títulos
mais vendidos nos Estados Unidos; e, não foram muitas as livrarias que
surgiram; e, tampouco, aumentou o número de bibliotecas e, as existentes, pouco
acrescentaram ao seu acervo; e a edição de jornais e de revistas continua a ser
em número ínfimo, se considerado o número de habitantes do país.E, como sempre,
continua a comentar-se e a lamentar-se sobre a mediocridade intelectual dos
estudantes de Letras.
Na
verdade, se as correntes críticas mudam em consonância com os modelos
importados, é inegável, no entanto, continuar vigente o tradicional apego a
esses modelos. E, tudo leva a crer que os métodos de ensino, ainda não induzem
às necessárias e imprescindíveis leituras. O que, nos tempos atuais, ainda se
agrava com a possibilidade de obter informações pelos meios eletrônicos que não
custam muito e satisfazem àqueles que não se recusam a uma produção intelectual
exatamente igual à dos demais.
Assim,
diante do perigo próximo e evidente de continuar a ser o ensino da Literatura essa gigantesca máquina de enganar, de
que fala Osman Lins (e os outros cursos universitários dessa “máquina” estariam
isentos?), o que somente parece existir é a falta de cautela diante de um
futuro, presumivelmente, incerto.

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