Era, certamente, intocável. Felipe II havia a ele recorrido para fundar Montevidéu. Prestou-se a inverter nessa aventura, uma importância inconcebível que jamais lhe foi reembolsada. Depois, recebeu posse de enormes extensões de terra. E, dele, queriam se queixar ao Rei da Espanha, os canários que, embarcados num de seus navios, fizeram a travessia do Atlântico para aportar em Montevidéu, famélicos, sujos e maltrapilhos.
A Coroa espanhola havia pago oitenta pesos por passageiro mas, no barco de Francisco de Alzáybar foram considerados coisas e não seres humanos e, como carga, amontoados em espaços reduzidos, sofrendo o racionamento de água e de alimentos e à mercê das intempéries. Quando desembarcaram pareciam espectros: pálidos, macilentos, desgrenhados, os rostos emagrecidos, os olhos cavernosos.
Dos que, na beira do cais, os estavam esperando, receberam auxílio e consolo e, aos poucos, foram organizando, nessa América dos sonhos de prosperidade, os seus dias. Então, houve aqueles que falaram em protestar diante da Coroa pelo tratamento indigno recebido pois, assim, talvez, tais viagens não mais se repetiriam.
Não constam das crônicas se tais protestos se concretizaram. Mas, como diz Milton Schinca no seu livro Boulevard Sarandi (Montevideu, Ediciones de la Banda Oriental, 1978) onde relata o episódio: De qualquer maneira, salta à vista que, diante de um personagem de tal envergadura, qualquer reclamação teria resultado vã.
Melancolicamente fatalista é uma asserção de quem não ignora como sucedem as coisas no Continente embora se abstenha de muito indagar. Então, nas suas breves histórias prevalecem as, talvez, inconseqüentes - e danças e diversões e o interior das casas e o aspecto das mulheres e algum perfil notável e uma atitude surpreendente e uma situação curiosa e uma questão política. Porém quem sabe se entre elas não haverá as que fazem lembrar: no Continente, nem tudo foi feito de inocências.

Nenhum comentário:
Postar um comentário