Formada pela Escola
Normal da Província de São Pedro, de Porto Alegre, em 1881, inicia, logo a seguir
o magistério, um trabalho que motivou
toda a sua vida. Zahidé Lupinacci Muzart, no estudo que lhe dedica, parte do volume Escritoras brasileiras do século
XIX que organizou para a Edunisc de Santa Cruz do Sul e Editora Mulheres de
Florianópolis, publicado neste ano, a
apresenta como a mulher que em tudo imprimiu a marca de seu caráter altivo,
franco e audaz. Sobretudo, se for considerado – e a isso se refere a articulista – o ambiente em
que viveu Ana Aurora do Amaral Lisboa, uma pequena cidade do interior do Rio
Grande do Sul - e não é difícil imaginar
- dominada pelos seus preconceitos e por aqueles próprios da época. Assim, o
primeiro livro publicado por Ana Aurora do Amaral Lisboa tem por título Minha defesa e reúne artigos já publicados na imprensa e
entre eles um breve texto, transcrito por Zahidé Lupinacci Muzart, no qual fala
de seus deveres, de como se dedica ao trabalho sem jamais ser abatida por ele
ou pelos reveses da vida o que a faz consciente de pertencer ao número dos fortes.
Na verdade, ela sabe o
que deseja e o seu querer, imperioso, se expressa em palavras e em ações. Da palavra, usou para
educar, para instruir, para lutar. O seu teatro, diz Zahidé Lupinacci Muzart,
tinha objetivos moralistas e pedagógicos; suas crônicas, falam sobre a honra, a
liberdade, sobre a mulher; sua poesia,
comprometida politicamente, está ligada à História do Rio Grande do Sul. Do
conhecimento, serviu-se para ensinar e o título de “Grande Mestra” recebido da
comunidade rio-pardense, homenageia uma dedicação que, inclusive, se mostra na
fundação do curso noturno em que, gratuitamente, alfabetizava adultos,
constituindo-se, então, no dizer de Zahidé Lupinacci Muzart, a fundadora dos cursos noturno no Brasil. Isto é, algo realmente, digno de
admiração pois nasceu Ana Aurora do Amaral Lisboa em Rio Pardo, no ano de 1860
e, exceção feita do tempo de estudos em Porto Alegre, aí passou a vida inteira,
escrevendo, ensinando, lutando, mostrando caminhos. E desejar que todos saibam
ler e trabalhar para que tal aconteça, é mostra perfeita de como esteve, de
longe, à frente de seu tempo.
Deveras, muito à frente porque a erradicação do analfabetismo no Brasil não parece ter sido uma das preocupações dos governos que se sucederam e sucedem haja visto os milhões de brasileiros que ainda não sabem ler. Evidentemente, entre eles não se contam aqueles que a prisão econômica impede de ter acesso à leitura e que, junto com os que sabem ler e não lêem, formam a população alienada do país: aquela que, sobre tudo por ignorância, permite que nele tudo aconteça a sua revelia. Neutralizam, assim, o imprescindível princípio que diz serem todos iguais, possibilitando então, que uns sejam mais iguais do que outros.

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