No
ano de 1857, foi publicado pela Firmin Didot Frères, em Paris, Itinéraire d’ un voyage en Allemagne de
Nísia Floresta. Em português, só irá aparecer em 1982, traduzido por Francisco Chagas Pereira, numa
edição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. No ano passado, em
cuidadoso trabalho da Editora Mulheres de Florianópolis, com uma excelente
apresentação de Constância Lima Duarte, é novamente editado.
Em trinta e quatro cartas, datadas, a primeira,
de 26 de agosto de 1856, Bruxelas e a última de 30 de setembro, Estrasburgo, do
mesmo ano, Nísia Floresta dá conta minuciosamente dos lugares visitados e de
seus estados de espírito. Assim, há notas sobre o aspecto das cidades, sobre os
museus, sobre parques e jardins, sobre a paisagem. Também, sobre as melancolias
e tristezas e saudades que afloram a seu espírito, motivadas pelo escutar de
uma bela música ou pelo vislumbrar de alguma imagem.
Quase
sempre é um registro que se ancora nas suas emoções. Pontilhado de adjetivos
elogiosos (belo, gracioso, encantador, magnífico, majestoso, lindíssimo),
diz do que lhe agrada e, rara vez, se permite emitir uma crítica e, quando o
faz, está a visar o luxo desenfreado,
presente numa rica mesa de jogo ou o luxo
frívolo que se ostenta do trabalho
cansativo e absorvente das rendeiras cujo ganho nada mais é do que uma minguada quantia.
Mas,
é, sobretudo, quando visita as cidades alemãs, depois de ter passado por Bruxelas, Liège e Spa que Nísia Floresta
se deixa conquistar. Em 31 de agosto, escreve: eis-me no solo tão desejado
da Alemanha. Uma semana depois, já deseja se fixar em Frankfurt, lamentando ter, com grandes
despesas, montado uma casa em Paris
pois, quanto mais conhece a Alemanha,
mais aprecia o modo e os costumes de vida de seus habitantes e mais se convence
que é junto com o povo alemão que deseja viver. E descobre-lhe inúmeras
qualidades: seriedade afabilidade, probidade de caráter, sensibilidade,
hospitalidade, espírito filosófico, franqueza, polidez, amabilidade,
sinceridade. A elas se acrescenta o que chama de maravilha do trabalho e do
gênio humano, responsável, sem dúvida, por essa beleza da paisagem que é
fruto do trabalho do homem: os jardins e os parques, as flores e os pomares.
E
há referência à História, guardada nos museus e nos objetos de arte e nos
castelos e igrejas; e há a lembrança dos gênios da música e dos poetas. Por
vezes, a emoção diante de um entardecer, ou do prazeroso copo de vinho, servido
diante do rio. Vivências que se entrelaçam à saudade constante que sente dos
seus e cuja expressão, um eu que se confessa, não permite diluir-se no
testemunho e na narrativa, esse estado de alma que fez do itinerário de viagem
de Nísia Floresta um olhar que é, mais que tudo, voltado para si mesma.

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