Conhecido
como Magón, Manuel González Zeledón nasceu na Costa Rica em 1864. Viveu setenta
e dois anos, trinta dos quais nos Estados Unidos, como diplomata, o que torna
admirável a sua obra feita, essencialmente, de quadros de costumes de seu país.
“El
clis del sol”, publicado na antologia organizada por Seymour Menton, El
cuento hispanoamericano
(México, 1964), é um valioso exemplo tanto no que se refere ao linguajar
espontâneo do povo como no perfil que desenha que é o da mais acabada e
perfeita ingenuidade.
O
narrador é Magón. Relata a conversa que teve com seu amigo Cornelio Cacheda que
lhe chegou de visita, trazendo com ele duas meninas pequenas. Loiras como
espigas, brancas e rosadas como pêssego
maduro, as gêmeas contrastavam, fortemente, com a figura do pai, moreno,
tosco, feio, de traços fisionômicos irregulares.
Admirado,
Magón pergunta se a mulher dele era loira, se havia antepassados loiros na
família. Em resposta, ouviu uma estrepitosa gargalhada de desdém pois Cornelio
Cacheda não podia entender como, um homem letrado e lido soubesse menos do que
ele, um peão campeiro. Magón pede
explicações. Primeiro, ouviu, longamente, como as meninas recebiam presentes e
regalias de todos por sua beleza. Depois, conseguindo que o pai voltasse ao
assunto, escutou que tinham nascido assim, clarinhas, porque a mãe tinha
espiado a eclipse do sol. É a vez de Magón se admirar de vê-lo chegar a essa
conclusão. Para, então, escutá-lo confessar que, na verdade, não fora ele quem
adivinhara a razão do acontecido, mas que tudo lhe fora explicado pelo mestre
italiano, aquele que construíra a torre da igreja da cidade: um homem claro, de cabelo
vermelho, muito branco e maciço que, há quatro anos, comia na sua casa.
Só
então, se percebe o sentido de seu nome, que em nenhum momento deixa de ser
levado a sério pelo amigo que o escuta. Magón não apenas se abstém de julgar os
fatos, mas se propõe a analisar, com seriedade, o assunto e dar uma opinião
depois de ouvir a de seus leitores.
Fica
evidente que entre o letrado e o rústico amigo, com quem conversa, não há
hierarquias culturais e a ingenuidade de que dá provas Cornelio é comum a
ambos. Compete ao leitor entender, pela última linha do conto – Pois foi ele quem me explicou a coisa da
eclipse do sol – o que permanece
subentendido, já que nenhum dos personagens tem condições de perceber o quê de fato acontecera, devido
à confiança que depositam: Cornelio, no que diz o homem que lhe freqüenta
assiduamente a casa; Magón, no que lhe explica o seu amigo.
O
relato, conciso, se faz sozinho no diálogo entre aquele que narra e aquele que
o irá reproduzir, guardando uma unidade que frase alguma ou qualquer elemento
estranho possam interferir. E o desenlace, imprevisto, está em acorde com tudo
o que foi dito antes. E com algo de picardia poist a vida, neste conto, é
mostrada como, eventualmente, ela pode ser: sem dramas ou tragédias a
subscreverem infrações de normas. Quando ninguém delas tenha se dado conta.

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