As
filhas lhe cobram carinho, atenções que, em determinado momento, estiveram
ausentes porque ela tinha uma festa que, então, era prioritária; ou lhe
reprovam uma severidade que achavam inoportuna. Ou, discutem verdades
cambiantes: para ela era importante que as contas fossem mantidas em dia. Para
as filhas só é aconselhável fazer dívidas o que significa uma possibilidade de
enriquecer. Entre acusações, desentendimentos, agressões ela acaba por concluir
que os filhos não podem assumir sua
própria personalidade sem arranhar os pais.
Sobre
os homens, é um lembrar de felicidades já idas, de encontros que se perdem, de
um feminino diluído em dúvidas. Lúcidas e, talvez, irônicas, as palavras sobre
a classe social a que pertence, mais especificamente, sobre os valores que lhe
regem os atos: o posto alcançado por meio de influências, a frivolidade no
trato, a importância dada às aparências, o gosto pelo agrupamento, os corteses
hábitos sociais, a tolerância com o convívio medíocre, a corrida em prol do
dinheiro.
Entremeadas,
as melancólicas referências à condição feminina quando pensa que nascer homem já é receita para vencer na
vida, que é, na vida, já ter um lugar assegurado, que tomar decisões heróicas
não é da competência das mulheres. Na verdade, são idéias que estão em acorde
com a visão de mundo tradicional e conservadora que nutre o micro universo em
que se move a narradora. Dela, não se conhece o nome, apenas essa idade,
quarenta e nove anos, que a inquieta e deprime e a leva a procurar vencer a
solidão desejada. E isto faz de Mañana
digo basta (Buenos Aires, Sudamericana) um livro de confissão. E reflexo de
uma classe convicta de ser merecedora de benesses – e o luxo e o conforto e o
divertimento – e completamente estranha ao que sucede a sua volta.
Silvina
Bulrich, romancista, ensaísta e
tradutora argentina escreve para os seus. Até porque, analfabetos e famintos
não tem acesso aos livros.
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