Rafael
Maluenda, desde muito jovem, se dedicou ao jornalismo. Durante muitos anos foi redator de El Mercurio de Santiago do Chile e dele
era diretor quando morreu em 1963. Também exerceu, austeramente, a crítica
literária o que lhe valeu não poucos inimigos. E escreveu romances e contos.
Dentre eles se distingue “Perseguido”, um conto que, no dizer de Juan Loveluck,
se distingue pela sobriedade e plena claridade formal. Ele se constrói em duas
partes que se intercalam. Uma, descreve a caminhada do perseguido na sua fuga e
a outra, os movimentos do grupo de soldados que o perseguem.
O
relato se inicia com o perseguido internando-se num caminho sombrio e perigoso.
O narrador lhe conhece os pensamentos e lhe descreve cada gesto, buscando a
defesa em caso de necessidade. E nota o silêncio que o rodeia nesse caminhar
noturno em que tudo que o envolve e ao cavalo se mostra em repouso: Protegidos pela sombra, ginete e cavalo
seguiam com pausada marcha em caminho.
Um
breve espaço em branco irá separar este texto do seguinte em que será narrada a
ação dos perseguidores: eram dez e tomaram a direção oposta. Vestiam longos
ponchos e somente o quepe e os sabres lhe revelavam a profissão. Quase três
horas os separavam daquele a quem buscavam.
Novo
espaço em branco e, outra vez, o caminho do perseguido. Agora, o narrador se
alonga em descrever a paisagem, áspera, inacessível até para as cabras
selvagens: aquelas paragens apareciam
como visão de um mundo fantástico, um mundo de sombras onde tudo o sendeiro, os
taipais, as árvores, as colinas, a massa informe do bosque, se destacavam
negros sobre a indefinida negrura do
espaço. E tudo era paz, antecedendo um amanhecer saturado de perfumes que
de azul claro passou a róseo, representando essa claridade um perigo para o
cavaleiro solitário.
E
houve logo o tilintar de metais, percebido pelo fugitivo e houve, logo o
estrondo dos tiros e a perseguição louca através da nuvem de pó que se
levantava na planície e a mais louca idéia de fuga: enfrentar a subida quase
vertical, quase inverossímil.
O
ritmo do conto se acelera nessa ânsia de captura que domina os soldados. Nessa luta
pela sobrevivência que leva o fugitivo cada vez mais para o alto na montanha
inóspita.
Os
soldados o vêem no alto iluminado
principalmente pelo primeiro raio de sol que emergia sobre os cimos, depois foi como se tivesse se
dissolvido no ar. Quando chegaram no
cimo da montanha, nada encontraram além da terrível fenda que a separava em
dois. E, incógnito para eles e para o leitor o destino do fugitivo. Como
incógnita, a razão de sua fuga e da perseguição de que foi vítima.
Como
herói ele se mostra quando dribla as balas, quando ascende a montanha e se
mostra iluminado, imune a pontarias. Quando desaparece sem deixar rastros.
Vencidos, atônitos, os perseguidores. Como cenário, uma natureza vibrante, de
águas sonoras, de pássaros, de perfumes, de luzes, estranha à paixão dos
homens. Paixão que Rafael Maluenda apenas esboçou nesse Bem e nesse Mal que se
enfrentam e cujas fronteiras se diluem no sugestivo emprego dos elementos
dramáticos que acabam por se anular nesse misterioso final todo pleno de
incertezas.
E
a beleza do relato em que se entremeiam, concisas, a rapidez da ação e o
desenho da paisagem, fazem de “Perseguido” um dos mais perfeitos contos dessa
Antologia do Conto Chileno que a Editorial Universitária de Buenos Aires
publicou em 1964.

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