La
muerte en la calle foi publicado em
1967, um ano depois da morte de José Félix Fuenmayor. Dez anos antes havia
saído à luz seu romance Cosme. De
sua autoria, também, um livro de relato, Una
triste aventura de catorce sabios e
outro de poemas, Musas del trópico.
Certamente,
não se trata de uma obra em livro muito vasta mas, o suficientemente instigante
para influenciar os escritores da costa atlântica colombiana, o Grupo de
Barranquilla, do qual também fazia parte Gabriel García Márquez.
Jornalista
de vasta atividade, dono de uma grande biblioteca onde abundavam, além dos
títulos em espanhol, aqueles em inglês e francês, José Félix Fuenmayor era um
dos veteranos do grupo e, com sua prosa
simples, precisa e transparente, foi um dos modelos a ser seguido.
Sete
de seus inovadores relatos que fazem parte do livro La muerte en la calle foram
cedidos à Crónica, um semanário esportivo e literário, criado pelo Grupo de
Barranquilla em abril de 1950. Teve origem num momento de grande importância do
futebol no país e pretendeu, como diz Dasso Saldívar na sua biografia de Gabriel García Márquez, El viaje a la semilla (Madrid, Alfaguara, 1997), utilizar o esporte como anzol comercial para fazer e difundir o que
realmente lhes interessava: o jornalismo e a literatura. Mas, se o destino
de Crónica acabou sendo o da maioria
das revistas de sua época – decair e desaparecer – o quê, de fato, aconteceu
quatorze meses após, ela deu ensejo a fazer conhecidas algumas obras que
somente sairiam em livro muitos anos depois: os melhores contos de Ojos de perro azul de Gabriel García
Márquez e de La muerte en la calle de José Félix Fenmayor, dentre outros.
“La
muerte en la calle”, que dá título ao volume, é um dos mais belos e
sugestivos da coleção. Num hábil manejo
da técnica narrativa, José Félix Fuenmayor aprofunda, em poucas páginas, uma
realidade plena de significados. O conto se inicia com uma pequena frase
trivial: Hoje um cachorro latiu para mim.
E o parágrafo completa a descrição dos movimentos do animal que, no segundo
parágrafo, será esquecido porque o narrador passa a se ocupar de si mesmo,
admirado de ter se sentado num pequeno muro da calçada, pois já estava a
caminho de casa. Conclui que suas pernas não tem mais condições de levá-lo mais
adiante. Pela primeira vez pensa que sua
casa é longe, que na verdade, não é uma casa mas uma toca nas aforas da cidade
e revela sua condição de mendigo.
Um mendigo que possui método: tem os seus
conhecidos, a quem considera amigos, e não pede esmola ao mesmo todos os dias
para deixá-lo descansar. Pede só o que precisa e quando precisa. E só fala se
alguém demonstra interesse pelo que tem a dizer: pequenas coisas que lhe dizem
respeito porque, sobre outras, pouco sabe. O quê significa que passa o tempo
todo calado como se fosse mudo.
E
é num singelo monologar para si mesmo que os pobres fatos de seu cotidiano vão
emergindo: como achou onde morar, como resolveu o problema da chuva, como se
defende da maldade dos meninos. Logo, sua história de filho da pobreza vai se
traçando, entremeada com as ingênuas reflexões que as perdas e os abandonos e a
solidão lhe permitem elaborar. Insinuando-se, pouco a pouco, a gradual perda de
forças e a sua estranheza em perceber que a rua o vai abandonando, que o muro
no qual está sentado se eleva como uma nuvem e o conduz, sozinho, como sempre
vivera, e no silêncio, para o espaço dos reencontros daqueles que já deixaram a
vida.
Anônimo
ele viveu e, assim, anônimo, na rua, ele morreu. Um homem qualquer que José
Félix Fuenmayor surpreende no breve momento que antecede seu fim e cujo perfil,
o de um miserável, sem lugar ao sol, ele constrói com a firmeza de quem, não somente é mestre da palavra mas
principalmente aspira a se comprometer com a realidade de sua gente.
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