Foi
publicado, primeiro, em Papeles de Son
Armadans, revista de Palma de Mallorca, dirigida por Camilo José Cela. Um
ano depois, em 1977, aparece na Revista
Casa de las Américas de Cuba: “Sobre la ausencia”, um texto de Carlos
Droguett, escrito entre o 31 de agosto de 1975 e o 31 de julho de 1976. Um
grandioso texto em que a realidade e a ficção se misturam para um registro que,
certamente, jamais constará da História Oficial.
Em
princípio, é a descrição do Te Deum que a Junta Militar chilena mandou rezar
pelo acontecido no dia 11 de setembro de 1973, em Santiago do Chile.
Carlos
Droguett inicia dizendo que na realidade,
a cerimônia não chegou a seu término
e que as páginas que seguem testemunham as circunstâncias em que o incidente
aconteceu. Um incidente que, na escrita de Carlos Droguett é de um exacerbado
fantástico que, no entanto se ameniza se
não for esquecido o quê acabara de ocorrer no Chile e continuava a ocorrer. Antes de narrá-lo,
porém, Carlos Droguett retorna no tempo para relatar a entrevista dos membros
da Junta de Governo com o Arcebispo de Santiago para pedir-lhe a realização da
cerimônia.Estavam numa enorme sala e as palavras eram como gotas no silêncio.
Na rua, soavam disparos, ruídos de tropas, de carros de guerra e, na
indiferença do recinto, penetrava um pouco da fumaça que os tanques alinhados,
lá embaixo, queimavam ao longo da rua.
O
presidente da Junta se expressa, no dizer do narrador, balbuciando. Sentia-se incomodado e, assim, sorria, para
pedir o que lhe era tão urgente e imprescindível: um espaço para o ritual
religioso que iria significar o acordo público da Igreja para o crime que haviam
perpetrado. A resposta lhe chega com distante indiferença, pronunciada por
alguém que fala sem alegria, com cansaço,
com persistente aborrecimento. O arcebispo contou as botas presentes,
negando permitir a cerimônia na Escola Militar – a Igreja não é um regimento, general – e começou a embrabecer para
logo se enfurecer, guardando, porém, uma impassibilidade necessária para
estender a mão em despedida e conduzi-los à saída. Disse, então, que a igreja
da Gratidão Nacional era um belo templo, muito unido à História do Chile, a seu
exército, erigida em ação de graças logo
depois do fim da guerra do Pacífico, quando o general Baquedano regressou
vitorioso de Lima [..]. Que lhes parece para cumprir a promessa que desejam ?
Porque,
no início da entrevista já havia sido muito claro: A Catedral permanecerá fechada, não a abriremos, não temos nada que
celebrar, suponho que o senhor, general, saiba o que significa um Te Deum, de
minha parte não vejo motivos para elevar ação de graças pelos trágicos
acontecimentos do dia 11.
Nenhum comentário:
Postar um comentário