No romance de Mario Vargas
Llosa, ele é chamado de o jornalista
míope. Trabalhava para o Jornal de
Notícias quando pediu para ser enviado a Canudos junto com o Coronel Moreira
Cesar.
Após o extermínio da cidade,
volta a Salvador mas se recusa a continuar trabalhando para o jornal porque a
condição, para que isso acontecesse, era esquecer Canudos. Resta-lhe procurar o
Barão, dono do Diário da Bahía.
Um longo diálogo se
estabelece entre aquele que é rico e poderoso e o outro, um esquálido e
envelhecido jornalista que pede trabalho para ajudar um amigo doente e para poder
comer.
Meses já se haviam passado e
o Barão só deseja tudo esquecer. O jornalista não quer permitir o esquecimento.
Nesse tempo em que durou o
diálogo – o sol iluminava a manhã quando o jornalista chegou e era já noite
avançada quando foi embora - o Barão lutou para vê-lo terminado e seu interlocutor
para que não se esfacelasse.
Na estrutura do romance,
dividido em quatro partes, esse diálogo é o texto que inicia cada um dos
capítulos da quarta parte. Interrompido, ele recomeça cada vez com um tema
diferente: o esquecimento a que deve ser fadado Canudos, as informações
contraditórias ou falsas veiculadas pela imprensa, o destino dado ao cadáver de
Antonio Conselheiro, o amor do jornalista por Jurema. E é seguido pelos
episódios que relatam os últimos dias de Canudos: as tragédias da luta, suas
misérias e suas mortes.
No gabinete do Barão,
separado do mundo pelas cortinas fechadas, o tempo transcorrido que esmaece os
sentimentos, a emoção de cada um dos interlocutores e o que se passou distante
das lutas, diluem a realidade.
Essa alternância do diálogo
que procura entender ou explicar com a narrativa dos fatos apresenta-se, então,
como um recurso narrativo hábil e pertinente aos instituir em meandros um paralelo
entre o que foi chamado de reino do
obscurantismo e as idéias dos bem pensantes ou dos que se acreditam como
tal.
Evidencia, principalmente, a
distância que existe entre o mundo dos deserdados e aquele das palavras e das
considerações.

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