Iniciara-se, apenas, por um
pedido de emprego e se prolongou pela atração que o assunto Canudos exerceu
sobre um, aquele que desejava saber e o outro que precisava contar o que
acontecera.
Estão se esquecendo de Canudos, ele disse. Ao que o Barão responde: É um episódio desgraçado, turvo, confuso.
Não serve. A história deve ser instrutiva, exemplar. Nessa guerra, ninguém se
cobriu de glória. E ninguém entende o que aconteceu. As pessoas decidiram baixar uma cortina. É sábio, é saudável.
Para ele, Barão, no entanto,
isso é impossível. O simples olhar para o jornalista e dar-lhe a mão, quando
chegou, lhe trouxe à memória o que há meses tratava de esquecer: o incêndio na
sua fazenda, a crise de loucura de sua mulher, o abandono da vida pública. Um
passado a ressuscitar quando desejava que desaparecesse. Não queria escutar,
não queria saber e, por inúmeras vezes, tentou interromper as palavras do
outro, olhando para ele duramente, levantando-se para dar por terminada a
visita, dizendo nada desejar ouvir sobre Canudos. Mas, ao mesmo tempo, querendo
escutar e, submetendo-se à voz do jornalista que tudo presenciara e não queria
permitir que fosse esquecido.
Ao voltar de Canudos, onde
fora como correspondente, procura respostas para o que lá havia visto e aquelas
que encontra nos jornais são monocórdicas: hordas
de fanáticos, sanguinários abjetos, canibais do sertão, degenerados da raça,
monstros desprezíveis, escória humana, infames lunáticos, filicidas, taradas da
alma.
Também percebe na atitude de
outras testemunhas a inexplicável incongruência que é não ver o que está diante
dos olhos mas somente o que foi dito que deveria ser visto. E percebe essa
conspiração da qual todos participaram para negar ou para afirmar o que era de
conveniência para a República e do interesse de seus mandatários sobre os
homens de Canudos.
Quando esses homens foram
vencidos emudeceram-se todos sobre as perdas. E depois de terem sido mortos no
grande massacre, eles morreram outra vez condenados pelo silêncio que se instalou.
Sábio e saudável, dissera o Barão.

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