Desde 1975, ele vivia em
Berna num exílio sem retorno. E, nesse espaço alheio, escrevia desesperadamente
– nunca escreveu tanto como no exílio – sobre o que acontecera no seu país a
partir do dia 11 de setembro de 1973 quando grandes textos seus já haviam sido
publicados.
Queria dar voz a esses chilenos que não saíram ou não puderam sair do país e que nos dois anos em que ainda permaneceu no Chile teve o privilégio de conhecer: testemunhas do que então ocorria, alguns desses heróis que, como estava programado pelo fascismo, deveriam morrer na tortura ou se desvanecer na outra morte natural dos gorilas, o desaparecimento.
Em “Literatura do Exílio”,
fala desses homens que enfrentaram a delação,
a prisão, a tortura, o desaparecimento, o
assassinato e que em lugar de se desesperar, de se anular, em lugar de
emudecer para sempre, deixaram uma luz, uma palavra, um rastro balbuciado de seu padecimento: os artistas natos que
falam, sonham, esperam, escrevem resgatando experiências que não saíram do
tinteiro mas dos terríveis e humilhantes sofrimentos das perseguições e dos
cárceres. Também, daqueles que, diante da morte, foram levados a usar uma
ferramenta que não era a sua, o idioma, para deixar, ainda que escrevendo uma
única vez, a marca de sua alma antes de serem conduzidos ao extermínio.
Nesse momento em que
refletia sobre a Literatura do exílio que medrava pelo mundo afora e sobre o
seu valor, para Carlos Droguett era uma certeza que das palavras originadas do padecimento extra-literário e
extra-artístico irão nascer os novos escritores do Chile: vozes sem uso e
sem cansaço que irão construir, quando o fascismo já tiver desaparecido, a ressurreição
do país.
E os anos se passaram e
diluíram-se as esperanças.
No exílio, em Berna, no amado e odiado exílio, Carlos
Droguett, que um dia esperara retornar ao Chile, morreu no dia 30 de julho de
1996.

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