Quando os atores,
enfileirados, o rosto voltado para o mesmo ponto, a voz enérgica e dura –
espécie de coro no velho teatro grego – pronunciaram, bem escandidos, os versos
de João Cabral de Melo Neto, o público permaneceu imperturbável.
No centro da cidade grande,
o teatro se ergue como o espaço da Arte, alimento dos que possuem meios para
dela se aproximar. A esses, o problema da terra (e da fome e da doença e do analfabetismo)
não diz respeito e É a parte que te cabe
/ Deste latifúndio / ...É a terra que querias / Ver dividida se constituem palavras como as outras, apenas parte de
um espetáculo.
Mas, o belíssimo texto de Morte e vida Severina e as plásticas
montagens que ensejou não parecem ser entendidas muito além do que, em geral,
se propõe a Cena do Continente quando se engaja no percurso do lúdico e do aliciante.
E a preferência pelo
descompromisso, orientando montagens que raras vezes privilegiam autores
nacionais, tem um inegável significado: o atrelamento cultural.
Como na música, na
literatura, nas questões do viver cotidiano, a permanente e renovada submissão
aos valores forâneos impede a criação baseada nas verdades (ou inverdades) do
país e a conseqüente tomada de consciência, imprescindível na busca das
transformações que um país rico em contradições sociais, mas que se queira
justo para todos os seus cidadãos, deseja ver concretizadas.
Uma submissão que seria
eludida se houvesse interesse em descobrir o mundo dos verdadeiros problemas e
verdadeiras angústias do país e a dramaturgia nacional representasse a procura
de um estilo próprio, liberto de estéticas estrangeiras e alienantes.
Tarefa certamente eivada de
obstáculocomo o texto de Gilberto Martínez dá testemunho.
Hacia un teatro dialético é a síntese de suas experiências com a criação
coletiva em que operários, camponeses, estudantes foram espectadores e críticos
das montagens mais diversas apresentados no Teatro Libre de Medellin. Também daquela
realizada em diferentes lugares do interior da Colômbia entre os quais Urrao,
no Vale do rio Penderisco, onde os
camponeses sem terra e famintos, organizados, invadiram os prédios e representavam em forma teatral
suas lutas, sua tragédia de miseráveis.
(Casa de las Américas, 1979).
Porém, o que resultou em
avanço na produção e nos debates que buscaram o estético e o político foi
diluído pelas diferentes posições ideológicas dos integrantes do grupo e pelos
interesses pessoais e a falta de clareza
nas reflexões e conceituação em
relação com sua prática concreta.
Constituiu-se, à semelhança
de outros no Continente, um momento cuja transitoriedade não elimina o valor de
querer se opor a um humanismo que aceita tendências progressistas, desde que
elas não desafiem as leis ordenadas pelo Sistema.
Mas, libertar-se do jugo e
da subserviência – sem dúvida – demanda esforço e aptidões.
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