Tratando de algumas questões
gerais e relatando uma experiência concreta que entrelaçam questões de método e
resultados, o colombiano Guillermo Rendón responde à pergunta – “o que
significou para você a Revolução Cubana?” – formulada, em 1979, pela revista Casa de las Américas.
Delineadas com clareza e
pertinência, foram as suas observações sobre o papel do pesquisador na América
Latina que, ou se situa como adepto da “ciência pura”, distanciando-se de seu
objeto de estudo, ou com ele se compromete para, transformando o presente,
visar um esperançoso futuro. Entusiasta, a constatação das transformações que,
na Ilha, permitiram, a nível de indivíduo, levar à ampliação ilimitada de
atitude criativa.
Na verdade, as considerações
de Guillermo Rendón traduzem fortes convicções políticas e de acordo com elas
irá realizar o seu trabalho.
Compositor, jamais uma obra
sua se afasta do processo revolucionário latino-americano. Em tudo o que compõe
há uma busca de identidade, baseada na tradição, e uma recusa em servir de veículo de propaganda às aspirações e
conquistas da oligarquia e do imperialismo; em todas elas, uma procura
incansável do caminho da liberdade para o Terceiro Mundo.
Desse desejo, nasce a
composição para piano Variaciones
móviles sobre el diario del Che Guevara.
Sons evocadores de momentos
da vida do guerrilheiro, criados em meio da tristeza e da esperança, na luta
pela forma que Guilhermo Rendón evoca num texto raro e emocionante.
e respondendo ao so Trabalhava dia e noite nas Variaciones móviles sobre el diario del Che Guevara; esta vez compus toda a obra no piano, nota por nota, passagem por passagem, parte por parte. Improvisava, escrevia, desenvolvia, tornava a tocar, acrescentava, corrigia, suprimia. O material original era quase sempre submetido a essa difícil dialética da destruição onde adquire novas categorias, ele diz. Para então relatar a comunicação sonora que se estabeleceu entre ele e uma coruja que, ao escutar o piano foi se aproximando m do instrumento.
Busquei valores rítmicos, busquei a afinação e de um espelho de sons
devolvi à coruja o retrato sonoro de sua angústia.O elo se estreitou e cada
noite, ela chegava, de galho em galho e o som do piano e o de seu canto se
intercalavam.
Terminada a obra, porém,
Guillermo Rendón não mais a tocou. Durante um mês, ainda, a coruja cantava
perto de sua janela. Sempre um pouco mais distante e um pouco mais tarde.
Para o compositor que a
esqueceu nessa ausência, ela irá sempre reviver, entrelaçada, nessas notas que
ele compôs para o Che Guevara, já morto.

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