Aquele que está trabalhando pela felicidade
dos outros não pode se deitar para dormir no meio do caminho.Enrique Solari
Swayne
A intenção de Enrique Solari
Swayne ao escrever o drama Collacocha
está expressa na dedicatória que antecede a obra e que por vontade sua deve
constar no programa cada vez que houver uma apresentação da peça. Dedico esta obra, em geral, a todos os que
estão empenhados, generosa, sadia e vigorosamente, em forjar um Peru mais justo
e mais feliz. Em forma especial, dedico a todos aqueles que estão empenhados na
habilitação de nossa terra como moradia do homem. Porque, talvez, eles também
poderiam dizer, com o protagonista da obra: “Estamos combatendo a miséria
humana e estamos construindo a felicidade dos homens do futuro”.
Escrita em 1955, Collacocha estreou três anos depois em
Lima onde, como no México e na Espanha, seu êxito foi estrondoso e extremamente
significativo. Expressou uma compreensão incomum neste Continente que apenas
parece reconhecer o talento em obras vindas de outros hemisférios ainda que –
ou exatamente por isso – feitas de nada ou de muito pouco relacionado com a
realidade do Terceiro Mundo.
E Collacocha é essencialmente latino-americana. Pelo cenário, pelos
personagens, pela dialética que a alimenta e permite que a vejam como uma obra
épica.
O cenário, para os três
atos, se constitui de uma cabana de troncos que se apoia nas pedras da
Cordilheira dos Antes. Numa das paredes, uma grande abertura se abre sobre o
abismo. Na outra, uma porta conduz à socava que se comunica com o túnel. No
interior da cabana, espaço rústico e sombrio, rodeados de seus instrumentos, trabalham
os engenheiros com o objetivo de abrir o túnel que irá unir a selva peruana ao
Oceano Pacífico. Os personagens, exceto “uma jovem” que pronunciará duas
palavras, são todos masculinos. Entre eles, sobressai o engenheiro responsável
pela obra cujo sonho, combater a
miséria e construir a felicidade dos
homens do futuro – mostra-se possível. O seu sonho – combater a miséria e
construir a felicidade dos homens do futuro – mostra-se possível e o preço pago
se dilui na realidade da conquista: o túnel permitindo a união da selva com o
mar, o caminhão passando por pequenos povoados pobres, por lugares desolados e
áridos, instaurando uma nova era. Ele acredita no seu trabalho como numa missão:
habilitar o país a ser a terra dos homens, abrir estradas para que eles possam
se aproximar uns dos outros. E por não ter dúvidas sobre o ideal que lhe
comanda as ações é que se pode indignar com as grandes mentiras, com os grandes
negócios, com as palavras ocas, com os arrivistas. Com a situação do país onde
ninguém trabalha mas todos falam. Uns de insignificâncias, outros de sua fome,
outros de idéias gerais.

Patriotismo agressivo e
consciente que se suaviza no momento de perigo, quando, encurralados pelo
perigo da enchente, surgem as evocações da paisagem peruana. Paisagens cheias
de luz, campos possuídos de cafezais iluminados no entardecer, altos eucaliptos se perfilando contra as montanhas rosadas, as dunas
violetas, o horizonte vermelho e as rochas negras do litoral, a selva com sua exuberância morna, infinita [...], o correr lento dos grandes
rios, a vida aprazível dos povoados ribeirinhos , a praça deserta na tarde, a igreja fechada, o burro amarrado numa árvore.
Imagens radiosamente
desenhadas. Impressões de algo que foi vivido e amado. Nas palavras, bem
claramente expressas, as certezas, as emoções, as constatações. Como quando
alguém exclama: País não nos falta, o que nos
faltam são homens!
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