domingo, 24 de março de 1996

A resposta.4

          Como todos os demais escritores a quem foi perguntado,  “ o quê tem significado para você a Revolução Cubana?”,  pela revista Casa de las Américas que no seu número 212 de 1979 lhes publicou as respostas, Jan Carew (1923, Guiana Inglesa)  e Gérard Pierre-Charles (1935, Haiti) se mostram  profundamente tocados pela incrível luta, pela quase impossível e inacreditável vitória que fizeram da Ilha de Cuba um luminoso fanal e guia.   

              Para Jan Carew, Gérard Pierre-Charles e para os intelectuais e artistas da Argentina, Colômbia, Chile, Costa Rica, México, Nicarágua, Panamá, Peru e Venezuela foi a imensa descoberta: saber que o sonho podia ser possível e para todos do Continente.

              Nascido na Guiana, Jan Carew ainda era súdito do Império Colonial inglês quando ouviu pela primeira vez falar desses cubanos, guerrilheiros barbudos, que lutavam na Sierra Maestra. Então, na Guiana, o primeiro governo progressista havia sido derrubado pelas tropas britânicas. Era o ano de 1953. Muitos de seus compatriotas foram para a prisão e da luta revolucionária de Cuba quase tudo era escamoteado pelas agências noticiosas capitalistas, assim como escamoteadas foram as subseqüentes vitórias ganhas no trabalho das plantações e das fábricas e nas escolas pelos que desejavam estudar.

               Nada evitava, porém, que as palavras da Ilha fossem escutadas em segredo e que estivessem em uníssono com a escolha do povo da Guiana Inglesa tão escravizado e tão saqueado economicamente como os outros da América Latina.        

              Talvez mais do que todos, o Haiti acorrentado na ignomínia de seus Papa Doc, seu Tontons Macoutes, seus Baby Doc onde escutar a Rádio Rebelde de Cuba era motivo para uma condenação à morte. Para fugir do terror que no Haiti se instaurava, Gérard Pierre-Charles deixa a pátria e nas suas andanças do exílio tem sempre os olhos postos em Cuba que representava o triunfo pleno contra a expressão do capital, contra o colono branco e seus lacaios locais. Lamentando que na sua terra, os impérios econômicos ianques eram tanto quanto os governantes os verdadeiros donos do país, isto é, donos da bauxita, do café, do açúcar, da venda de sangue e de cadáveres.

                 Oriundos de espaços diferentes, Jan Carew e Gérard Pierre-Charles entrelaçam a esperança no caminho seguido por Cuba a esse testemunho do que ocorre em seus próprios países, territórios dominados pela minoria que ignora os marginalizados do Continente onde reina o saque, a usurpação e a grande indiferença dos que possuem por aqueles que nada têm. Razões suficientes para levar Jan Carew à certeza de que a decisão de um povo pode derrotar as forças do imperialismo e reafirmar a Gérard Pierre-Charles que a Ilha distante apenas setenta e oito quilômetros de seu país, emerge como a síntese histórica de todas as lutas e esperanças do Haiti, dos povos do Caribe, da América Latina.

 

 

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