domingo, 10 de março de 1996

A resposta. 2


         Ou a RevoluçãoCubana como descobrimento, como redescobrimento do homem, de seus padecimentos, de suas golpeadas e negadas vidas, de suas desvanecidas esbanjadas mortes. A Revolução Cubana como uma descoberta, uma afirmação e um repto do que somos nós todos, cubanos, antilhanos, chilenos, peruanos, argentinos, bolivianos, paraguaios, uruguaios, brasileiros, equatorianos, colombianos, venezuelanos, americanos integrais, integrados no padecimento, no sonho, na liberdade, na luta, na esperança, seres do Terceiro Mundo, seres do penúltimo mundo da reiterada injustiça e da postergação institucionalizada.
          Em 1979, Carlos Droguett já vivia fora do Chile. No exílio, pagava o crime de querer para seu povo um destino justo: a vida que deveria ser um direito de todo e qualquer ser humano onde quer que viva.

          Assim, sua resposta, à pergunta formulada pela revista Casa de las Américas " o quê tem significado para você a Revolução Cubana?", publicada no seu número 112, sua longa resposta é para várias perguntas ou para uma pergunta feita de diversos graus de paixão. Nela cabem suas emoções, a de um homem transformado pelo terrível dia 11 de setembro de 1973 em que foi bombardeado o Palácio de la Moneda e as figuras de muitos desses que de uma ou outra maneira, se ofertaram pelo Continente: O Che, Salvador Allende, José Marti, Emilio Ballagas, Cirilo Villaverde, Ignácio Ossa, os desconhecidos heróis das muitas lutas libertárias, os torturados pela opressão dos regimes que se sucediam.

          E sua emoção é feita do sofrimento daqueles que procuraram dar forma aos seus sonhos e então foram maltratados e mortos; é feita dos sonhos que vislumbraram caminhos para os povos do Continente; e de suas próprias esperanças e convicções.

          Daí se entremearem no texto expressões que definem a Revolução cubana: praga benfeitora, multiplicada e multiplicadora, um milagre cotidiano, um significado para os vivos, para os corpos e almas em movimento em direção da vida, imenso e testemunhal espelho no qual se reflete – como era, como é, como deveria ser – o mundo inteiro. Daí mostrar-se claro o laço que o une a essa concretização de algo desejado e que o alimenta porque a ela, à Revolução Cubana deve (ele diz) essa juventude que são meus livros abertos de par em par, esta vida que continuo gastando como é devido, pelas duas pontas, a do homem, a do testemunho.
 
          E, exatamente por ser capaz de ver e de entender o que ocorre no Continente e sentir pelo homem maltratado é que esse espelho o persegue implacável e o faz continuar incansavelmente a escrever em terras do exílio, alerta nos seus 84 anos e ainda acreditando no que escrevera em 1979: enquanto haja banqueiros e assassinos, banqueiros e delatores, enquanto haja bombas de neutron no ventre da África, cheia de tubarões e de banqueiros, residindo no coração do sofrimento, não fiques jamais anestesiado, adormecido.

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