Ou a RevoluçãoCubana como descobrimento, como
redescobrimento do homem, de seus padecimentos, de suas golpeadas e negadas
vidas, de suas desvanecidas esbanjadas mortes. A Revolução Cubana como uma
descoberta, uma afirmação e um repto do que somos nós todos, cubanos,
antilhanos, chilenos, peruanos, argentinos, bolivianos, paraguaios, uruguaios,
brasileiros, equatorianos, colombianos, venezuelanos, americanos integrais,
integrados no padecimento, no sonho, na liberdade, na luta, na esperança, seres
do Terceiro Mundo, seres do penúltimo
mundo da reiterada injustiça e da postergação institucionalizada.
Em
1979, Carlos Droguett já vivia fora do Chile. No exílio, pagava o crime de
querer para seu povo um destino justo: a vida que deveria ser um direito de
todo e qualquer ser humano onde quer que viva.
Assim,
sua resposta, à pergunta formulada pela revista Casa de las Américas " o quê tem significado para você a Revolução Cubana?", publicada no seu número 112, sua longa resposta é para várias perguntas ou para uma pergunta
feita de diversos graus de paixão. Nela cabem suas
emoções, a de um homem transformado pelo terrível dia 11 de setembro de 1973 em
que foi bombardeado o Palácio de la Moneda e as figuras de muitos desses que de
uma ou outra maneira, se ofertaram pelo Continente: O Che, Salvador Allende,
José Marti, Emilio Ballagas, Cirilo Villaverde, Ignácio Ossa, os desconhecidos heróis
das muitas lutas libertárias, os torturados pela opressão dos regimes que se
sucediam.
E
sua emoção é feita do sofrimento daqueles que procuraram dar forma aos seus
sonhos e então foram maltratados e mortos; é feita dos sonhos que vislumbraram
caminhos para os povos do Continente; e de suas próprias esperanças e
convicções.
Daí
se entremearem no texto expressões que definem a Revolução cubana: praga benfeitora, multiplicada e multiplicadora, um milagre cotidiano, um
significado para os vivos, para os
corpos e almas em movimento em direção da vida, imenso e testemunhal espelho no qual se reflete – como era, como é, como deveria ser – o mundo
inteiro. Daí mostrar-se claro o laço que o une a essa concretização de algo
desejado e que o alimenta porque a ela, à Revolução Cubana deve (ele diz) essa juventude que são meus livros abertos
de par em par, esta vida que continuo gastando como é devido, pelas duas
pontas, a do homem, a do testemunho.
E, exatamente por ser capaz de ver e de entender o que
ocorre no Continente e sentir pelo homem maltratado é que esse espelho o
persegue implacável e o faz continuar
incansavelmente a escrever em terras do exílio, alerta nos seus 84 anos e ainda
acreditando no que escrevera em 1979: enquanto
haja banqueiros e assassinos, banqueiros e delatores, enquanto haja bombas de
neutron no ventre da África, cheia de tubarões e de banqueiros, residindo no
coração do sofrimento, não fiques jamais anestesiado, adormecido.
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