No texto “Algunas ideas
sobre la narración como arte y sobre lo que ella puede tener como documento histórico”
publicado, em La soledad y la creación
literária, Juan Morosoli observa que muitos dos que temem os colonialismos
políticos ou econômicos não se dão conta ao exaltar as literaturas forâneas,
ignorando ou desprezando aquela que é produzida em seu próprio país - que estão
pondo em prática o pior deles, o colonialismo cultural.
Refere-se, principalmente,
aos críticos cujos parâmetros são pautados por obras estrangeiras em que não cabem
- e o exemplo é o de seu país, o Uruguai - a produção literária presa aos
limites do realismo e da história.
Exatamente, encerrando-se
nesses limites é que Juan Morosoli busca a sua expressão. Deseja contar, de
maneira simples, um fato verdadeiro, deseja evocar um homem conhecido e,
profundamente, deseja olhar a realidade a seu redor. Ou seja, submeter-se à
narração que mostra, descreve, apreende o
acontecer e o tempo de algumas criaturas, as detém na vida, salvando-as da
morte.
E, assim, foi com Rodriguez
do conto “Los amigos”. Desde pequeno, ele desejou guiar um carro de bons
cavalos. Mas não pôde ser responsável pelo carro do armazém porque não sabia
ler nem escrever e misturava os pacotes. Foi, então, para o povoado onde
trabalhou como lixeiro, carregador. Acabou empurrando um carrinho onde
transportava lavagem e, com essa carga, atravessava o povoado. Até que um dia o patrão lhe
deu de presente um carro velho. Raspou, lavou e, sem as velhas crostas, apareceram
as boas madeiras de que era feito. Deu-lhes uma nova pintura. De pura pena, alguém lhe
ofereceu um cavalo velho. Cuidou dele e, na primavera, já lhe nascia pelagem.
Pôs no carro uma bandeira que não era de nenhum país e que cheia de cores o
enfeitava. Começou a fazer mudanças, transportar coisas, levar malas para a
estação.
Um dia, voltou para o pago e
ali, perto de um arroio, acampou. À noite, acendia o fogo, caminhava longe para
admirar o carro que luzia mais bonito que de dia. E, pensava: Isto
parece um quadro. Parece mentira que eu tenha tudo isto. Que seja dono de
tanta coisa .
Essa emoção, tão
ingenuamente humilde, foi fixada por um autor que, sem dúvida, é um homem do
Continente. Um homem cheio de razões ao
considerar que não há temas fatalmente ficcionais como tampouco há aqueles
fatalmente inúteis para o romancista.
Assim, a pequena e tímida
vida de Rodriguez pode interessar ou não; pode emocionar, ou não. Mas é feita
de sentimentos, como inúmeras outras, e parte dessa classe de deserdados que a
vida não consegue vencer, que a morte lança no esquecimento e cuja existência
Juan Morosoli procura prolongar.
Porque sabe que narrar
grandes feitos é mais fácil do que entrar nessas vidas para vê-las na sua
grandeza elementar isto é na sua grandeza original onde não entra nada que já
não esteja dentro do homem.

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