Ó céus de Porto Alegre - como farei para levar-vos para o céu? XlIV Do Caderno H
A Academia Brasileira de
Letras por três vezes o preteriu, negando-lhe a satisfação desse irrelevante
capricho: querer ser imortal em plagas brasileiras.
Agora, ele já não deve mais
se importar com essas miudezas que, certamente, não iriam contribuir para
torná-lo mais amado do que foi entre aqueles que o amavam.
Tampouco, talvez, com essas
homenagens que recebeu livre de conchavos - o título de cidadão Honorário de
Porto Alegre, a placa com seus versos na praça da cidade natal, a medalha “O
negrinho do Pastoreio” do Governo do Rio Grande do Sul, o prêmio “Machado de
Assis” da Academia Brasileira de Letra, e o do Pen Club - por uma obra que se
iniciou com a publicação, em 1940, de A
rua dos cataventos e que foi se completando ao longo desse viver tão
simples como tão profundamente simples foram os seus versos.
Donaldo Schüler em A poesia no Rio Grande do Sul nota que
este primeiro livro de Mário Quintana termina com versos que dizem da admiração
da Morte ao fitar no seu manto negro os fios de vida que o poeta urdiu
cantando. E observa, ainda, o professor gaúcho que tanta familiaridade com a morte não leva a uma expressão em tons
lamuriosos e que o poeta faz da morte um contendor
com o qual ele brinca a sério.
Parece ser, realmente o que
faz Mário Quintana nestes poemas e nestas reflexões que constituem o Caderno H, cuja publicação iniciou em
1943 na revista Província de São Pedro,
e que, dez anos depois, continuou no Correio
do Povo de Porto Alegre.
Notações de leitura,
maliciosas observações sobre a mediocridade imperante, meditações sobre o
destino dos homens e sobre esses seus dias povoados de pequeníssimas grandes
coisas - um grilo cantando num terreno baldio, a pequena rã que um dia cruzou
o seu caminho, um cachorro sem dono que lhe acompanha os passos na madrugada,
algo da paisagem entrevisto pela janela.
E, como nota que se repete
em diferentes nuanças, a Morte e seus mistérios.
Então, ele se diverte um pouco
imaginando esse morto que volta sempre
para a primeira reunião familiar. E sorri entre aliviado e agradecido quando
descobre que estão falando noutras coisas; ou, constatando que são muitos os que morrem antes, outros
depois; o mais difícil é acertar a hora; ou, opinando que cada um deveria ter um céu que ele próprio escolhesse... Mais ou menos de seu agrado.
Que os deuses lhe concedam
aquele céu que desejou.
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