Extremamente risível, mas
igualmente levado a sério, a figura desse ditador que, ao longo dos anos, determinou
o destino de tantos países do Continente e inspirou não poucas obras
literárias.
Maten al león é uma delas. Publicado pela primeira vez em 1969, suas várias edições
parecem demonstrar tratar-se de um tema inesgotável e que Jorge Ibargüengoitia
não se enganou ao optar por reescrever, satiricamente, a História da América.
Maten al león é um romance construído a partir de tragicômicos momentos da História
de Arepa, espaço fictício e certamente mimético de todo o Continente.
República Constitucional, a
ilha é governada por um Presidente que já no quarto e último mandato, aspira
reeleger-se Presidente vitalício. Cansada de seus desmandos, a pequena elite do
país quer apresentar o seu candidato pelo Partido Moderado às eleições que
devem, finalmente, ocorrer.
Chama-se Pepe Cussirat, tem
trinta e cinco anos, monta a cavalo, tem
um avião, joga golf, mata veados e fala três idiomas e há quinze anos está
ausente de seu país, civilizando-se
em outras terras.
Na carta que lhe foi enviada
pelos Moderados constou que a decisão de convidá-lo para concorrer à presidência,
foi baseada ao considerarem as suas altas
virtudes cívicas, a austeridade de sua posição política refletida no seu exílio
voluntário que se impôs e de seus méritos pessoais.
No entanto, o que foi
realmente decisivo nessa opção, expressou-o um dos membros do Partido: Se ele chega em avião, ganhamos as eleições. Porque em Arepa, ninguém
havia visto jamais um avião.
Uma argumentação tão díspar
e mascarando os verdadeiros motivos, se insere na comicidade que aliada à
construção dos personagens, à breves descrições de espaço, à fixação de rápidas
cenas e ao ritmo de ações enredadas em surpreendentes quiproquós, determinam o
tom do romance.
Assim, o chefe de polícia,
Coronel Jimenez tem aspecto de índio, usa um uniforme prussiano cujo capote o faz
enormemente transpirar ao assistir a execução dos que, sem julgamento, o
Presidente mandou matar; ou as vãs atitudes de Cussirat, “chefe” da
conspiração, que chega de volta a seu país natal a fim de cumprir uma missão
política para a qual ficara decidido que seria digno. Faz tolice sobre tolice,
é ajudado pelo homem que rotulou de imbecil, salvo por intervenção de
terceiros, parte, em camarote de primeira classe, deixando tudo como está.
Assim, as referências ao
escritório do Presidente iluminado por um lustre de contas sob o qual
sobressaem o seu próprio retrato segurando a bandeira nacional e o busto em mármore
italiano que o imortaliza hercúleo e
rejuvenescido.Detalhes que estão, verdadeiramente, em acorde com as leis
iníquas e sentenças de morte que ali subscreve e com outras menores. Estas, em
harmonia com a ingenuidade do povo por ele governado perfeitamente esboçada
nesta improvisada festa que foi a chegada de Cussirat: Por ordem presidencial e
com o objetivo de permitir a aterrissagem feliz do Bleriot de Cussirat o
Exército tirou as vacas do pasto, cortou um pé de mandioca que havia crescido
no meio da várzea e se posicionou em círculos ao redor do campo para evitar que
a gurizada se pusesse a brincar e fosse atropelada pelo avião.
Mas, é sobretudo, nas
seqüências em que o plano de matar o Presidente se desenvolve, quando mudanças
de atitudes e situações imprevistas se sucedem e se mantém o acelerado ritmo
narrativo é que a intenção de provocar o riso se intensifica.
No capítulo XX, “Dancem
todos”, circunstâncias e caprichos pessoais levam o plano ao fracasso. Morre
quem deveria executá-lo e sai ileso da festa - e ainda agradecendo os bons
momentos - aquele que deveria ter morrido. Os tipos criados, sua ágil
movimentação, a presença fugaz e ingênua da plebe, o perfeito retrato da elite,
um relato dinâmico e engenhoso jamais se afastam do propósito de Maten al león; um romance destinado a
fazer rir.
Certamente, se os habitantes
do Continente não cederem à tentação de ler o que é dito nas entrelinhas.
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