Jorge Ibargüengoitia nasceu
em Guanajuato, México, em 1928. Autor de ensaios, crônicas, críticas, dramas e
romances iniciou sua carreira literária em 1967 com um livro de contos La ley de Herodes y otros cuentos. A
ele se seguiram vários romances dois dos quais receberam o Prêmio Casa de las
Américas, El atentado (1963) e Los relámpagos de agosto (1964).

Maten al león é de 1969 quando, embora constante, talvez repetitivo na Literatura
Latino-americana, o tema não deixou de ser oportuno ao girar em torno da figura
de um ditador.
Consta que Jorge
Ibargüengoitia reescreve a história hispano-americana satirizando-a.
E uma bela sátira é este seu romance todo feito das peripécias de Cussirat,
que, desastradamente, tenta matar o Presidente de Arepa.
A pequena ilha de Arepa se
situa no Caribe, é habitada por brancos, índios e pretos e exporta frutos da
terra. Colonizada por espanhóis, tornou-se independente em 1898, passando a
ser, em 1926, uma República Constitucional.
Com esses dados que
antecedem o primeiro capítulo, se inicia Maten
al león, consigna que irá guiar suas páginas.
Fictícia, a ilha de Arepa se
assemelha ou é idêntica a muitos espaços do Continente. De seus duzentos e
cinqüenta mil habitantes, a maioria não possui condições para formular
julgamentos a respeito de seu dirigente e a reduzida elite a ele está,
evidentemente, presa, pelos privilégios que, ao apoiá-lo, continua a usufruir.
O Presidente grosseiro,
truculento, insensível e que ignora qualquer lei, não tem medidas para limitar
seus quereres que em Arepa são plenamente obedecidos.
Apenas um pequeníssimo grupo
deseja a ele se opor, uma vontade que se aglutina em torno de um arepano que
havia partido e que regressara para disputar as eleições presidenciais.
O Presidente que está
terminando seu mandato, o último previsto por lei e que deseja se perpetuar no
Poder - para facilitar as coisas já mandara matar o candidato que se
apresentara para a sua sucessão - precisando neutralizar mais este que acaba de
chegar, lhe oferece um ministério.
Antes, porém de dar-lhe uma
resposta, Cussirat, ao presenciar a cerimônia que todos os anos se realizava
para festejar a independência de Arepa, já se dera conta que jamais o venceria
numa eleição. Não apenas o Presidente continua sendo a figura principal dos
festejos como assim é considerado pelos que dançam durante horas, sob o sol,
diante do Corpo Diplomático até a sua chegada em meio a vivas e ao estrondo
das bandas marciais: Contra esse homem
não se pode lutar nas eleições. É preciso matá-lo, decide. Após uns instantes
de surpresa lhe pergunta o interlocutor: Sim,
claro! Mas como?
Resposta, sem dúvida,
difícil de responder. Cussirat, primeiramente, quer agir sozinho. Põe uma bomba
no banheiro presidencial, entra armado em palácio para matá-lo à queima roupa.
Tentativas que falham e o
levam a aceitar o auxílio dos demais conspiradores. Ainda, assim, os planos fracassam
mas não aquele que - ninguém resiste ao
dinheiro - o coloca a salvo num barco pronto para deixar a ilha.
Já, então, Cussirat se
arrependera do caminho empreendido quando diz ao homem que o escondera depois
da sua última e falhada tentativa: Sou um
fracassado. Tentei matá-lo três vezes. A primeira custou a vida dos opositores;
a segunda, de minha noiva; a terceira, do meu empregado que foi um dos homens
mais extraordinários que já conheci e meu grande amigo de infância. Eu, que sou
o responsável, me salvo, venho me meter neste rancho, vejo pobres pela primeira
vez, durmo mal e descubro que, apesar de tudo, os pobres vão continuar sendo
pobres e os ricos, ricos. Se eu tivesse sido Presidente, teria feito muitas
coisas mas não teria me ocorrido lhes dar dinheiro. Assim, que importância tem
que o Presidente seja um assassino ou não seja?A resposta que escuta - A mim isso nunca tinha me importado - é uma resposta que se
refere aos vários anos de crimes e injustiças praticados por um Ditador mascarado
de Presidente.
Uma resposta que, magnificamente,
sintetiza a relação que se estabelece entre o governante e os governados que
não sabem que podem ser cidadãos, aceitando com tranquilidade, um círculo
vicioso que os mantém, sempre, na condição de vítimas.
No relato, o conflito se
dissolve com a morte do Presidente. No entanto, torna a se instaurar no mesmo
cenário onde se movem os mesmos personagens com a assunção do Vice-Presidente.
Uma explícita desesperança
no futuro do Continente não fosse a persistência de Ângela uma conspiradora
que não esmorece diante da derrota de Cussirat, a quem incitara à ação, mas
que persiste nas suas patrióticas maquinações.
Sobretudo, se não fosse o
suceder de ações hilariantes que no melhor estilo de um filme de Cantinflas -
mudar pelo riso - fazem do Presidente e de seu opositor personagens de
comédia.
Este riso, porém que as
páginas do romance provocam não são suficientes para diluir uma realidade tão
própria do Continente: o claro e funesto uso da perpetuação e da imutabilidade
do Poder.
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