Desencontros
de vida a dois que no compartilhar da mesa e do leito se movem na solidão.
Posses que se diluem em ausências. Dores que se prolongam escurecendo os
versos. Assim vão se fazendo os poemas de Cielo cielo (1947), Paraiso
perdido (1949), Por aire sucio (1951), Nocturnos (1955), Poemas
de amor ( 1958), Pobre mundo (1996), No (1980).
Assim,
os sofrimentos daqueles que reclamam o
que é seu / ou que procuram ser apenas homens;
dos que são vítimas da injustiça, da
opressão, do abandono, da fome, do frio,
do medo, da exploração, da morte.
Ou, sintetizado num destino individual, a tragédia dos torturados, dos que,
desejando abraçar uma causa, são, por isso, destruídos: José Varona, morto, René Zavaleta, morto. A dor e miséria em cada
espaço: sujando o planeta / e respirando
junto com o ar / os uivos de meia humanidade.
Então, a voz feminina prega a guerra: Se
nunca haverá paz / se o abrigatório, o único decente/ o que pode nos limpar a consciência / é sair matando / limpar
o mundo.
Mas,
expressão de incredulidade e de esperança
é o seu poema “Digo que no murió”. Sentimentos que uniram tantos e
tantos quando, no mundo, irrompeu a voz
dizendo da morte do Chê. Como criança
que não acredita na sua desgraça e afirma e reafirma uma certeza contra todas as evidências, os versos
repetem a negativa: Digo que no murió.
Procuram justificativas:deram-no por morto repetidas vezes, não morreria tendo
tanto por fazer, não se iria deixar apanhar facilmente. Porém, deve se curvar à
evidência e na expressão final do poema, adulta e lúcida, Idea Vilariño,
nascida em Montevidéu, em 1920, pede que amigos e irmãos não se esqueçam dessa mão vendida, dessa
bota suja e norte-americana / mostrando a ferida com desprezo, do coração mais sujo que essa bota, que não esqueçam nem o nome,
nem a cara desse tenente Prado.
Porque a esperança persiste como um consolo. Embora inscrita no
impossível: ainda chegará um dia,
chegará uma hora.

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