É
um dizer como quem não quer nada, insinuado em contos que tem o seu curso se
alinhavando num fiapo de história. Estudantes que perdem mais tempo em observar
a vizinha da frente – radiosa cabeleira
como uma acácia em flor- do que em estudar; a conquista amorosa a partir de uma partitura musical; a viagem
dos contrabandistas cegos num trem que atravessa o país. Uma linguagem
pontilhada de expressões populares, sugerindo uma ingenuidade negada pela
expressão culta que aparece perto. O efeito dessa mescla, irônico ou
cordialmente cômico são farpas que denunciam situações na aparência
inofensivas.
São
essas as observações de Carlos, o enraizado, aquele que só pode viver entre os
seus, na sua geografia. Embora sem dinheiro e sem grandes possibilidades de
ganhá-lo, embora sem oportunidade para realizar consertos. Inesperadamente,
recebe convite para sair do país: uma
carta lacônica vindo do exterior
oferecendo um contrato para ensinar guitarra no exterior numa afamada
instituição com pagamento em dólar aterrissou em sua casa para povoá-la de esplendor e alegria.
Sua mulher, eufórica, no mesmo instante, fez rapidamente as malas. Para ficar
sabendo, alguns dias mais tarde, que o marido não abandonaria o país. Aproveitou
as malas feitas para voltar para a casa do pai e pedir o divórcio porque, no
seu entender, era impossível viver com alguém que desdenhava dólares e,
assim, a conseqüente oportunidade de se
salvar.
Para
Carlos, aceitar a proposta estrangeira seria baixar a guarda, seria encarar a
possibilidade de deixar seus pais na velhice; seria viver num país onde, no
inverno sobraria neve e onde o tempo todo faltaria erva para o chimarrão.
Seria, sobretudo, abandonar o barco avariado.
Tendo
em vista a importância da avaria e, principalmente, aquele que está no timão,
não há dúvida que se tratou de uma opção , no mínimo, patriótica.
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