São
quatro as figuras do Pampa argentino,
descritas magistralmente por
Domingo Sarmiento no seu livro Facundo: o vaqueano, o “gaúcho mau”, o
cantor e o rastreador. Este, diz Sarmiento, o mais extraordinário de todos, uma pessoa grave, circunspeta, cônscia do
saber que possui. Saber que o
torna respeitado, temido. Sua palavra é lei e ricos e pobres podem vir, um dia,
a precisar dela ou de seus serviços. O
rastreador sabe seguir nas amplas planícies, onde se cruzam trilhas e caminhos
em todas as direções, onde em campos abertos pasta o gado, o rastro do animal e
distingui-lo entre mil.
Facundo
foi escrito em 1845. Em nosso dias, Don Verídico, fala de um outro rastreador.
Em Don Verídico se la cuenta, Julio César Castro recria um universo
campeiro povoado de jogadores, pintores, apostadores, trançadores e outros
tantos que, abstraindo o exagero do narrador, um Barão de Munchaussen local,
fazem parte de um cenário circunscrito ao “rancho”e ao “boliche”, os dois polos
entre os quais eles se movimentam.
É
no boliche “El Resorte” que as
coisas acontecem. Quase sempre, lá estão os mesmos freqüentadores com seu
copinho de pinga ou congregados ao redor de um garrafão de vinho. E, nos
melhores dias, congregados, também, ao redor de uns pedaços de queijo. É para
lá que se dirigem todos os habitantes masculinos do pago para expor suas
preocupações, contar suas penas, procurar soluções . Lá, se encontraram Clemento Saliva e Nicanuto Lereno. O
primeiro, tomando pinga perto do balcão e como que meio bravo porque era assim
que estava desde que lhe fugira a mulher.. Viu entrar Nicanuto Lereno, o
rastreador. Dele se aproxima para dizer que os homens foram feitos para servir
uns aos outros e que por isso e, também, por conhecer sua fama, queria pedir
que lhe encontrasse a mulher.
O
rastreador respondeu que isso de ir embora era típico de mulher. O marido
explicou que não era tanto pela mulher a tristeza mas por que ela havia levado
junto um poncho que era dele e da maior estimação. Compreensivo, o rastreador
não pode se negar de prestar-lhe a ajuda pedida e foi embora a pé, puxando o
cavalo pelo cabresto. Ele era um
rastreador, dizia Don Verídico, que tanto rastreava bicho como cristão. Qualquer
coisa lhe servia para marcar o rumo: um capimzinho seco, um fósforo apagado, a
maneira do quero-quero gritar, a cara de susto de uma aranha, uma formiga de
perna quebrada.
Era
uma fama pesada de carregar. Nicanuto Lereno chegando em casa mateou a noite
inteira. E foi lá pela madrugada que ele falou na direção do quarto:
- Chê, Forina!
-Que?

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